29/10/2006

Vamos por partes IV

Uma pessoa pensa que está a fazer uma grande coisa, mostra-a ao mundo, e o mundo não dá por ela. A coisa feita existe ou não? Dito de outro modo: a realidade existe por si própria ou existe, apenas, na medida em que é conhecida? E conhecida por quem, dado que é impossível todas as pessoas da Terra terem conhecimento de todas as coisas?

Estas são algumas das perguntas mais banais que a Filosofia se faz, mas que exigem reflexão profunda e um adequado conhecimento do si em si e do si integrado no mundo, compreendendo e compreendendo-se. A Filosofia obriga a pensar, impele à organização do pensamento estruturante do ser e conduz à compreensão da realidade que é múltipla.

Algumas das respostas às questões com que iniciei este artigo são dadas pela História, mas serão sempre insuficientes se não forem abordadas do ponto de vista epistemológico que só a Filosofia permite. Hoje, mais do que ontem, porque a História, quando os jovens começam a ser capazes de pensá-la, é de acesso restrito a poucos e, dentro destes, somente àqueles que se não guiam pela lei do menor esforço. Os programas de História do segundo e do terceiro ciclos do ensino básico são bons programas, mas a realidade transforma-os em caricatura atendendo ao tempo ridículo que é atribuído à disciplina. Nada se ensina, nada se aprende, porque não há tempo para fazer mais nada senão aflorar os assuntos. Por culpa própria, a Geografia transformou-se em coisa nenhuma, porque fala de tudo menos do que importa à ciência ela mesma. Se as disciplinas fundamentais para a compreensão do indivíduo em si (História) e no meio (Geografia) estão transformadas na aridez do vazio, não é de espantar que os senhores que decidem tenham optado pela exclusão da Filosofia no ensino secundário. Quem faz as transformações no ensino, e arrogantemente lhes chama reformas, sabe pensar e sabe inferir as consequências das decisões que toma, por isso, tal decisão é pragmatismo puro! Os tribunais deveriam julgar os seus mentores por traição à Pátria!

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Aqui há dias criei um neologismo. Dizer que fiquei contente comigo própria é dizer pouco. Está publicado nestas minhas páginas, mas ninguém reparou nele (ou terão pensado que era gralha...)! E se, daqui por algum tempo, alguém com visibilidade utilizar a palavra que criei?

2 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Chamas a essas reformas "pragmatismo puro".
eu chamo-lhes pragmatismo economicista desonesto.

E depois, há quem se admire que os jovens cheguem à Universidade sem que saibam pensar!...

MPS disse...

Chamo pragmatismo puro à decisão de colocar a Filosofia no limbo: começa-se pela sua exclusão da lista de disciplinas cujo exame pode ser exigido para a candidatura a alguns cursos superiores (Direito, História, a PRÓPRIA FILOSOFIA!!!) para, depois disso, se justificar, provavelmente o seu desaparecimento da lista das disciplinas obrigatórias. Por que razão tudo isto me parece do mais puro pragmatismo? Porque quem manda sabe que a distribuição dos tempos semanais feita ao nível do básico e a organização dos tempos em blocos de 90 minutos conduz, fatalmenente, à imbecilização da população escolar. Ora, é do domínio da evidência que os imbecis não podem filosofar. Portanto...

Mas não te esqueças que, imediatamente a seguir ao pragmatismo, falei em julgamento por traição à Pátria, porque é de traição que se trata, penso eu!