24/03/2008

Máxima

Os mortos já se foderam, bamos mas é falar dos bibos!
Tia Maria
Na terra do sossego cada alma é sábia criadora de máximas, mas as da tia Maria são sempre assim, bem humoradas!

01/03/2008

DECÁLOGO DO TIRANO PRINCIPIANTE

No dia 3 de Junho de 2006, inspirada pelos primeiros passos do actual governo, escrevi o seguinte decálogo. Reedito-o hoje, sem nada ter que mudar.


Nos tempos pós-modernos (ainda é assim que se escreve?), o príncipe deve saber, antes de mais, que algumas máximas de Maquiavel estão desactualizadas: já não interessa parecer virtuoso, importa parecer. Apenas parecer, parecer qualquer coisa (corajoso, obstinado, trabalhador, bem vestido...).

Para conservar o poder, o príncipe deve:

1 - Escolher um alvo a abater. Um de cada vez, porque abrir várias frentes de guerra pode conduzir à derrota. Esse alvo pode ser dividido em vários alvos menores, para parecer que a luta é dura. Quanto mais duro parecer o combate, mais corajoso parecerá o príncipe.

2 - Considerar como essencial que o alvo escolhido para abatimento deve ser composto por gente com pouca capacidade de combate.

3 - Antes de iniciar a guerra, o príncipe precisa de preparar o "terreno", semeando mentiras que pareçam verdades. Algumas das mentiras podem ser verdades parciais. Por exemplo, generalizar a todo o grupo as más práticas de alguns, ou mostrar como esse grupo goza de privilégios a que mais ninguém tem acesso. Com este exercício, o príncipe conseguirá:

a) semear a discórdia entre os membros do grupo a abater e encontrar apoiantes, até, entre aqueles que quer arrasar;

b) o aplauso de todos aqueles que ainda não são os alvos a abater. A melhor prova de que a estratégia teve sucesso surgirá quando, aqueles que ainda não são os alvos a abater, começarem a rotular os membros do alvo a abater de preguiçosos, parasitas, etc.

4 - Preparado o terreno, o príncipe pode responsabilizar o alvo a abater de todos os males da república. Nessa altura, os membros do alvo a abater estarão tão fragilizados que, mesmo que consigam falar, os apupos da populaça não permitirão que sejam ouvidos ou, sendo-o, serão acusados de apenas quererem manter os seus privilégios e de não se importarem com o bem comum. O príncipe nem precisará de falar.

5 - É preciso que pareça que o príncipe trabalha muito. Ele deve parecer a antítese do alvo a abater. O príncipe deve comparecer a muitas reuniões, a maioria das quais aos fins-de-semana, chamar as televisões e aproveitar a oportunidade para divulgar mais algumas meias-verdades.

6 - É preciso que pareça que o príncipe se sacrifica, a si e à família, em prol do bem comum. As reuniões de fim-de-semana, feriados, etc. para isso contribuirão também. Com isto, o príncipe conseguirá envergonhar os membros do alvo a abater. Por esta altura, alguns membros do alvo a abater já se sentirão, de facto, privilegiados, e disponíveis para receber, de braços abertos, a sentença que o príncipe vier a decretar.

7 - Os membros envergonhados do alvo a abater serão apresentados como prova de que o príncipe tem razão. Serão instrumentos utilíssimos na guerra inter-pares que convém espicaçar. A autofagia provará a vitória do príncipe.

8 - Destruído o primeiro alvo a abater, o príncipe escolherá o próximo alvo a abater. A estratégia a seguir será exactamente a mesma. Os membros do alvo abatido engrossarão as fileiras dos que apoiarão as medidas que o príncipe tomar contra o alvo a abater no momento.

9 - Demagogia, populismo e fascismo serão palavras que alguns escreverão ou dirão, mas serão muito poucos. A esses, se não lhes conseguir tocar, o príncipe deve chamá-los às franjas do poder: eles iluminarão os seus salões e provarão que o príncipe é pessoa que aprecia a crítica e gosta de ouvir. Contribuirão para a aparência.

10 - O príncipe deve ter sempre em mente que o seu objectivo não é governar bem, é manter o poder. O poder só pode ser mantido se for exercido sobre súbditos submissos.