25/03/2007

Trabalhos e trabalheiras

Digam lá que, visto desta perspectiva, não parece mesmo o Parténon?


Mas não! É o trabalho do David Borges do 7.ºB. Dele e da família, tal como alguns dos outros aqui publicados. Refiro a família porque me parece muito bonito que ela se reuna em torno de um projecto escolar dos filhos. Eles sentem-se acarinhados e a sua vida escolar ganha com isso, bem como toda a Escola e a comunidade.

Em baixo estão mais duas imagens do mesmo trabalho. Repare-se na atenção com que foram trabalhadas as colunas (fuste e capitel correctíssimos da ordem dórica); a arquitrave, o friso (muito bem dividido em tríglifos e métopas); o frontão (onde não faltam os relevos e o fundo de cor garrida) e o telhado de duas águas.

Este trabalho é, sem dúvida, o vencedor a bsoluto!




Também em 3D, merece destaque especial o trabalho do André Ribeiro do 7.ºB!

Dos trabalhos em papel, realço este, da Yara Castro do 7.º C. A Yara, tal como o André, compreendeu muito bem a importância que a cor tinha na arquitectura da Grécia Antiga. Também ela se encantou pelo Parténon e desenhou-o numa perspectiva que lhe destaca a imponência, apesar de não ser um templo de grandes dimensões!


A Rita Geraldes, do 7.ºB, merece o prémio da representação mais original: massinhas e arroz combinaram-se, nas suas mãos, para esta representação originalíssima do Parténon! Que bonito!


Os dois trabalhos que se seguem motivaram a inclusão deste artigo neste espaço: não sei se é por serem feitos a lápis, mas a verdade é que não consegui amazená-los nas fotos do Sapo. Como não quis deixar de os mostrar publicamente, tive que recorrer a este estratagema!




Este é, de novo, o Parténon, assim imaginado pelo Gelson Pimenta, do 7.º E, que nem sequer se esqueceu dos acrotérios! Os acrotérios são aquelas esculturas colocadas nos ângulos do frontão. Muito bem, Gelson!


Este trabalho é de alguém do 7.ºF (tenho quase a certeza!) que se esqueceu de assinar. Seja lá quem for o responsável, faça o favor de se identificar para que tenha o devido aplauso (é mais fácil fazê-lo no História7 do sapo). Merece aplauso porque:

foi o único que representou um templo de ordem jónica que, como vemos, é muito mais elaborada do que a dórica;

aqui não se vê bem, mas as caneluras do fuste estão lindíssimas e perfeitas, tal como a base da coluna, de que se não esqueceu, nem das bandas sobrepostas da arquitrave, etc.

Parabéns a todos e ... BOAS FÉRIAS!

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Nota: não pude incluir trabalhos do 7.º D porque estão a ser feitos em colaboração com a disciplina de EV.

19/03/2007

Vamos por partes (IV)



O senhor ministro da economia subscreveu uma campanha alarve palavra que, caso o senhor ministro não saiba, significa selvagem, rude, indelicado e ignorante. Caso também não saiba, o adjectivo vem do árabe al-‘arab e, enquanto substantivo, tem ainda a acepção de salteador. Isto nos nossos dias porque, originariamente, era usada no plural e significava, simplesmente, os povos árabes. Chamamos evolução semântica ao fenómeno.

Tal como alarve, também Algarve vem do árabe e quer dizer o Ocidente (de al-garb). Ora, o senhor ministro da economia decidiu subscrever uma campanha cujo título é ALLGARVE para, diz ele, associar a ideia de “total” (do inglês all) ao Algarve! E o senhor ministro considera a ideia interessante! E o senhor ministro não tem vergonha de o dizer!

Alterar a etimologia das palavras é assaltar uma língua. Quem suprime um bem a outrem está a praticar um assalto. Ao aceitar suprimir a etimologia de uma palavra portuguesa, o senhor ministro está a assaltar o património nacional! Fá-lo por alarvidade! Não a tem, mas devia ter vergonha (do latim verecundia: reserva, pudor, respeito por alguém ou por alguma coisa).

Tudo isto, no entanto, tem um sentido: a supressão do ser nacional que se traduz na transformação dos cidadãos em seres vazios de memória que é o mesmo que dizer: ocos de conhecimento. Não me refiro, apenas, à campanha do senhor ministro da economia que facilmente passaria por tonta, se não fosse o contexto em que vivemos.

O contexto em que vivemos é o seguinte:

- ataque ao sistema de ensino de modo a que nada seja possível ensinar: as novas gerações de professores terão formação científica em coisa nenhuma. As gerações saídas do novo sistema serão um nada sobre o qual os governantes poderão inscrever qualquer coisa e o seu contrário;

- ataque ao conceito de direito das populações alegando os direitos das maiorias. Este está plenamente alcançado, vendo-se o povo do interior do país completamente só na luta pela manutenção em funcionamento das suas escolas, centros de saúde, maternidades, hospitais, postos de correio, etc.

- criação de novo código linguístico, dividindo-se este em duas versões. A primeira traduz-se na adopção de eufemismos de modo a que a realidade jamais transpareça das palavras (veja-se o faltar à verdade; a interrupção voluntária da gravidez, etc.). A segunda versão consiste em reduzir o léxico em número e elegância, enquanto se recheia o discurso de palavras estrangeiras para que não haja muitos cidadãos capazes de o decifrar. Porque se reduz o léxico, é imperioso que muitos significados sejam acrescentados às palavras que sobreviveram: o significado que importa a quem fala, que não é senão aquele que tem o poder. Só neste caso se compreende como é que o senhor primeiro-ministro tem sido classificado de “tribuno” pelos media obedientes e ignaros.

Quem leu 1984 de Orwell sabe bem do que estou a falar. Na novilíngua imposta aos cidadãos – o INGSOC – o Ministério da Verdade tem o seguinte lema: Guerra é paz / Liberdade é escravidão / Ignorância é força. Por todo o lado, fotografias gigantescas do Grande Irmão afiançam que ele vela por ti. Ah! É verdade: também o nome das terras foi mudado!

12/03/2007

Vigilância - é preciso!

Enquanto os responsáveis políticos se entretêm a brincar ao jogo das cadeiras nos respectivos partidos, a nossa democracia está a ser alvo do maior ataque de que tenho memória pessoal. Será que eles não vêem? Será que não lhes importa? Ou, pior, será que estão de acordo?

À semelhança do que fizeram com os professores, desacreditando toda a classe, chegou a vez dos sindicatos e, na sombra, vão-se criando estruturas que contornam e evitam o seu papel mediador. Que me lembre, só os fascistas defendiam que os sindicatos eram entidades nocivas!

Chegou agora a vez das forças de segurança. E porque não tenho a eloquência do articulista, transcrevo o artigo que Vasco Pulido Valente escreveu, no Público, na semana passada. É preciso estar atento e não permitir, porque o povo é soberano!



Salazar despachava diariamente com o director da PIDE. Caetano não despachava com o director da PIDE/DGS. Durante trinta anos de democracia nenhum primeiro-ministro despachou em pessoa com qualquer chefe de qualquer polícia. Tudo isto irá mudar. Uma lei já anunciada vai pôr a PSP, a GNR, a PJ e o SEF sob a autoridade de um secretário-geral para a Segurança Interna, com o estatuto de secretário de Estado, que despachará directamente com o eng. Sócrates. Como de costume, esta organização foi copiada. Desta vez, do modelo espanhol. Com duas diferenças. Primeira, em Espanha, o "secretário-geral" está subordinado ao ministro do Interior e não ao presidente do Conselho. E, segunda, em Espanha o terrorismo da ETA e a imigração islâmica teoricamente justificam a necessidade de um único centro de comando.Em Portugal, nenhum perigo imediato exige que as polícias passem a depender de Sócrates. Pior ainda: o SIRP, que superintende e coordena o Serviço de Informações de Segurança (SIS) e o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), dois serviços secretos, também ficará sob a tutela do primeiro-ministro. E a tudo isto, António Costa juntou dois novos meios de fiscalização e vigilância. O bilhete 4 em 1, que reúne o bilhete de identidade, o cartão de contribuinte, o cartão da Segurança Social e o cartão de utente do SNS. E o cartão que reúne a carta de condução, o livrete e o título de propriedade do automóvel. Com estas medidas, o Governo socialista criou um novo Estado-polícia, que a Assembleia não controla e que não dá ao português comum a menor garantia de privacidade. E, se a privacidade é, como é, o fundamento da liberdade, não lhes concede mais do que uma liberdade condicional e fictícia.Não se trata aqui do indivíduo Sócrates, que não abusará dos seus poderes. Mas da própria existência desses poderes, que nada impede um sucessor, ou mesmo um ajudante obscuro, de eventualmente desviar para fins perversos. Só que nessa altura será tarde para desfazer a máquina que hoje com tanta inconsciência e sem protesto público se anda a pôr em pé.Claro que vivemos num mundo perigoso e é preciso coordenar as polícias. Sucede que das várias formas de coordenação o Governo escolheu a pior: a que mais reforça (e compromete) o chefe do Executivo, a que não inclui um droit de regard do Parlamento e a que deixa os portugueses sem defesa perante a prepotência e o arbítrio. O que de resto não espanta. A liberdade nunca foi por aqui muito estimada.

04/03/2007

Columbano


Está muito bem organizada e completa a exposição que o Museu do Chiado dedica a Columbano. Quem lá for pode ver ao vivo grande parte das obras que fazem de Columbano um dos nomes maiores da pintura portuguesa. Aí estão os grandes escritores por si retratados – Antero (justamente em destaque, porque tal obra parece prenunciar a tragédia próxima, de tal modo Antero se assemelha mais a um espectro do que a um corpo vivo) mas também um Guerra Junqueiro sem aquela barba de rabi com que nos habituámos a identificá-lo; Oliveira Martins, Fialho de Almeida, Batalha Reis, Ramalho Ortigão, etc. Pode ver-se, também, o célebre Grupo do Leão; as obras dedicadas a Camões; o Convite para a Dança; o Concerto de Amadores, etc., etc.

São, no entanto, três pinturas pequenas aquelas que mais me fascinaram e que gostaria de conhecer melhor. Demorei-me tempo quase inconveniente em frente de cada uma delas porque são admiráveis.

Na primeira, o jovem sobrinho do pintor ensaia freneticamente qualquer peça para piano e quase parece querer coser-se com o instrumento. As folhas da partitura, de tão manuseadas, estão com os cantos dobrados e levantados. É impossível não rir.

A segunda (e não sigo a ordem pela qual estão apresentadas) é um José das Dornas totalmente saído da imaginação de Columbano, inspirado na personagem de Júlio Dinis. Mais do que o Português, representa o minhoto folgazão, segurando um copo de vinho branco que, quero crer, só pode ser um bom verde. A satisfação lê-se no sorriso, nas bochechas rosadas e no brilho intenso do olhar. É a menor das três pinturas.


Mas é a terceira que me deixa quase sem palavras, tal a mestria com que foi feita. Como quase sempre, o uso de tons escuros obriga os nossos olhos a habituarem-se à pouca luz e a descobrir, aos poucos, cada pormenor da cena. Uma senhora segura uma chávena de chá que, pela cor e por o serviço ser da companhia das Índias, apetece pedir-lhe que faça o favor de nos servir um também. O gesto dela é gentil e percebe-se isso pela pequena inclinação do líquido no interior da chávena. Olhando atentamente, descobre-se um samovar por entre o fundo escuro. As mãos da senhora são magras. Columbano pinta as mãos como poucos o sabem fazer, tão reais como se fossem mãos verdadeiras aquelas que vemos ali! Mas os cabelos! Ah! Os cabelos! Como dizer que Columbano nos permite sentir-lhes a macieza e apreciar cada curva que desenham ao enrolar-se em carrapito? O vestido da senhora é muito escuro (à boa maneira da pequena burguesia de fins do séc. XIX), mas não tão escuro que nos impeça de perceber os contornos da cadeira onde se senta e que, por sua vez, se distingue bem do fundo, sem luz, da pintura. Esta mestria em conseguir distinguir entre tons de escuro é maravilhosa e rara. E eu que não conhecia esta obra!

Quis comprar o catálogo, mas não foi possível porque apenas se fizeram 20 exemplares. É esse o motivo pelo qual não posso reproduzir aqui nenhuma das obras que referi. Espero que o erro se possa remediar. Apeteceu sair dali e seguir directamente para os Passos Perdidos da Assembleia da República, para continuar a ver Columbano!


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Depois de concluído o post, a Porca da Vila fez o favor de me enviar um endereço em que vinha reproduzida a última das pinturas a que me referi. e que está, agora, incluída no artigo. Muito obrigada PV!