O estudo do aparelho reprodutor feminino e do aparelho reprodutor masculino integram o currículo nacional de Ciências Naturais, disciplina obrigatória no ensino básico, também ele obrigatório. As escolas, em parceria com os centros de saúde, multiplicam-se em sessões de esclarecimento sobre sexualidade e meios contraceptivos, enquanto nas bibliotecas das escolas existe literatura abundante sobre o assunto, adequada à idade adolescente. Ou seja: a informação existe! Já nenhum adolescente acredita que os meninos são trazidos pela cegonha. Porque se engravida, então, sem querer? Só há uma resposta possível: descaso das consequências!
Enfatizo a pergunta anterior: porque
se engravida? Mulher alguma engravida sozinha e ela e o parceiro
sabem que um acto sexual sem protecção pode originar gravidez. Mesmo assim não se importam. Não são coitadinhos, são inconsequentes. Estes garotos arranjam dinheiro para o tabaco; arranjam dinheiro para as primeiras drogas, mas falta-lhes dinheiro para preservativos! Como pode ser? Aos jovens adultos vemo-los gastar somas consideráveis em noites de discoteca e bebedeira, mas não usam o preservativo. Não me importam para nada os argumentos que usam em defesa de semelhante comportamento, mas importa-me a leitura que, inevitavelmente, se tem que fazer dele:
homem que se não protege e não quer ser pai, faz da mulher instrumento de prazer ao seu serviço;
mulher que se não protege e não quer ser mãe reduz-se, a si própria, a objecto de prazer;
mulher que se não protege porque vai na cantiga do parceiro está a aceitar uma canga.
É, em qualquer caso, um retrato de menoridade, porque de submissão, voluntária ou imposta. Onde estão as feministas?
Em vez de mais educação; de acesso gratuito aos meios contraceptivos e de responsabilização do homem, o Estado Português propõe que se liberalize o aborto. Não se caia no sofisma de que despenalizar não é liberalizar porque, quando o Estado deixa de contar determinado acto como crime, está a dar-lhe licitude, a dizer que, praticá-lo, não está errado! E a mulher lá continua, submissa e menor; ainda mais só e desprotegida se for maioritário o voto “sim” no referendo ao aborto.
Não é só com o aborto clandestino que se deve terminar. É com o aborto ele próprio! E porque se não acaba com o alcoolismo encontrando solução médica para a ressaca, não é legalizando o aborto que se combate tal flagelo. Mas a
novilíngua reinante não quer saber disso para nada. Tratou de inventar um eufemismo perifrástico para dourar a pílula. A novel expressão ignora o feto; finge que ele não existe - aliena consciências! Mas quem
interrompe voluntariamente uma gravidez está, de facto, a abortar, que é o nome que o dicionário dá ao crime de matar um ser antes do nascimento. Tudo o resto é desamor à mulher e descaso pela vida!