17/10/2006

Scarborough Fair



Are you going to Scarborough Fair?
Parsley, sage, rosemary and thyme
Remember me to one who lives there
For once she was a true love of mine


Have her make me a cambric shirt
Parsley, sage, rosemary and thyme
Without no seam nor fine needle work
And then she'll be a true love of mine

Tell her to weave it in a sycamore wood lane

Parsley, sage, rosemary and thyme
And gather it all with a basket of flowers
And then she'll be a true love of mine

Have her wash it in yonder dry well

Parsley, sage, rosemary and thyme
Where water ne'er sprung nor drop of rain fell
And then she'll be a true love of mine

Have her find me an acre of land

Parsley, sage, rosemary and thyme
Between the sea foam and over the sand
And then she'll be a true love of mine

Plow the land with the horn of a lamb

Parsley, sage, rosemary and thyme
Then sow some seeds from north of the dam
And then she'll be a true love of mine

Tell her to reap it with a sickle of leather

Parsley, sage, rosemary and thyme
And gather it all in a bunch of heather
And then she'll be a true love of mine

If she tells me she can't, I'll reply

Parsley, sage, rosemary and thyme
Let me know that at least she will try
And then she'll be a true love of mine

Love imposes impossible tasks

Parsley, sage, rosemary and thyme
Though not more than any heart asks
And I must know she's a true love of mine

Dear, when thou has finished thy task

Parsley, sage, rosemary and thyme
Come to me, my hand for to ask
For thou then art a true love of mine

Este é o poema integral de uma canção imortalizada por Paul Simon e Art Garfunkle. O poema data do fim da Idade Média em Inglaterra e, pela sua temática, certamente não foi escrito por gente da nobreza.

Scarborough Fair era uma cidade mercantil que, talvez por essa razão, tinha leis severíssimas contra o crime e qualquer desvio era imediatamente condenado, e o acusado enforcado sem demoras. Ainda hoje, em Língua Inglesa, “Scarborough warning” significa “sem aviso”.

A primeira quadra é um primor de duplos sentidos. Pergunta-se a alguém se vai para Scarborough Fair (vai fazer comércio ou vai morrer?) e diz-se que nessa cidade vive alguém a quem se amou muito (já morreu?).

O poema é de uma beleza imensa. Ao viajante é pedido que transmita, à amada, os pedidos de quem a ama. E que pedidos! Que mundo de sonhos! Que ideal de mundo! Que ideia de paraíso! Confesso que, devido à ideia de perfeição que transmite, uma das minhas preferidas é esta: Have her make me a cambric shirt / Without no seam nor fine needle work. Pede-se o impossível e, candidamente, confessa-se: Love imposes impossible tasks / Though not more than any heart asks. Mas porque o amor exige tanto, também é capaz de dar o mesmo em troca, assim se compreendendo a repetição do segundo verso: Parsley, sage, rosemary and thyme”(1): enche-te de coragem, recorda o nosso amor e alcançaremos o bem-estar e uma vida longa (eterna?). O poema é de teor nostálgico. Referir-se-á o poeta à sua amada morta, imaginando o reencontro na eternidade? Mas é belo, muito belo, mesmo se dele não compreendi nada!


Simon canta, com algumas adaptações, apenas as quadras assinaladas com cor mais escura e aproveita para transformar a canção em manfesto contra a guerra do Vietname. Fá-lo, acrescentando às três últimas quadras, os seguintes versos:


Tell her to make me a cambric shirt
On the side of a hill in the deep forest green
Parsley, sage, rosemary and thyme
Tracing of sparrow on snow crested brown
Without no seam nor fine needle work
Blankets and bedclothes the child of the mountain
Tthen she'll be a true love of mine
Sleeps unaware of the clarion call

Tell her to find me an acre of land
On the side of a hill a sprinkling of leaves
Parsley, sage, rosemary and thyme
Washes the grave with silvery tears
Between the salt water andthe sea strand
A soldiers cleans and polishes a gun
Then she'll be a true love of mine

Tell her to reap it with a sickle of leather
War bellow blazing in scarlet battalions
Parsley, sage, rosemary and thyme
Generals order their soldiers to kill
And gather it all in a bunch of heather
And to fight for a cause they've long ago forgotten
Then she'll be a true love of mine


Há ideias boas e muito bem conseguidas.
Nota: sem esperar por pedido expresso à oferta que fizera em comentário, o Jorge Guedes teve a gentileza, mais do que me ensinar, de me enviar já tudo prontinho. E a música soa, pelas suas mãos.
_____
(1) As plantas referidas estão associadas, respectivamente, às seguintes propriedades: salsa: alívio da dor; sálvia; força e longevidade; rosmaninho: amor e memória; tomilho: coragem.

11 comentários:

MeMyself&I disse...

Ora aqui está algo muito bem conseguido e que, não fosses tu, me passaria completamente ao lado. Simon & Garfunkel são dos meus cantores favoritos. Mais quanto estavam juntos, mas enfim. Nunca pensei que fossem tão versáteis.
Excelente artigo!

Chanesco disse...

Cara Bragançana

Vim para retribuir a visita que fez ao meu arcaz e agradecer as palavras de apreço que lá me deixou.

Vou arranjar vagar para ler a sua urzeira uma vez que já dei uma vista de olhos no seu Brègancês.
Achei genial a forma como publicou o "dicionário".
É uma idéia a ter em conta na minha Arca Velha, visto que já tenho uma recolha de cerca de mil palavras e expressões, algumas delas coincidentes.

Eu que também sou bragançano adoptivo tenho feito algumas comparações e encontro a forma de falar muito semelhante com uma ligeira diferença no sotaque.

Saudações Raianas

MPS disse...

Obrigada, Miguel.
Pessoalmente também gosto mais de ouvir os dois juntos (a voz angelical de Garfunkle acrecenta maviosidade ao conjunto), mas o Simon sozinho também me agrada bastante.

Esqueci-me de dizer que a melodia também é medieval e, tal como a letra, conhece numerosas variações: não podemos esquecer que os temas medievais eram cantados de cidade em cidade e que, quem ouvia, sendo também jogral, a cantaria à sua maneira nas cidades por onde passasse(esquecendo parte da letra, acrescentando-lhe um verso, alterando uma nota aqui, outra ali, etc.).

MPS disse...

Chanesco, eu é que agradeço a sua gentileza.

Com o Brègancês (veja-se o erro clamoroso de Português que é esta acentuação) pretendi não só dar a conhecer expressões que são nossas, mas também a pronúncia que nós damos às palavras, porque me cansei de ouvir falar no rio Sabor quando o nome dele é Sàbor! Para isso tive que mandar às malvas as regras da grafia em Português. Paciência, Portugal é maior do que Lisboa e Coimbra.

Como vê, não fui só eu a encontrar semelhanças. Ainda bem.

Já tem mil palvras? Se seguir aquilo que eu fiz, vai ter, de início, um trabalho enorme, mas depois é só ir actualizando à medida que for recolhendo mais palavras. Pessoalmente ainda quero acrescentar outros capítulos, mas a seu tempo.

Gostei do "arcaz". Bela metáfora para a quantidade de assuntos que vai tratando. Se lhe associarmos a ideia de sacristia, ficamos com a noção exacta do seu blog: variedade e qualidade!

Um abraço

Jorge P. Guedes disse...

Porque creio que da 1ª vez o comentário não ficou salvo,repito-o.

Belo artigo que nos trouxe, para além de curiosas informações, a arte incomparável de dois dos meus favoritos:PAUL SIMON & ART GARFUNKEL

Resta-me, apenas, à guisa de achega deixar o seguinte:

"This English folk song dates back to late medieval times, when the seaside resort of Scarborough was an important venue for tradesmen from all over England. Founded well over a thousand years ago as Skarthaborg by the norman Skartha, the Viking settlement in North Yorkshire in the north-west of England became a very important port as the dark ages drew to a close.
Scarborough Fair was not a fair as we know it today (although it attracted jesters and jugglers) but a huge forty-five day trading event, starting August fifteen, which was exceptionally long for a fair in those days. People from all over England, and even some from the continent, came to Scarborough to do their business. As eventually the harbour started to decline, so did the fair, and Scarborough is a quiet, small town now.
In the middle ages, people didn't usually take credit for songs or other works of art they made, so the writer of Scarborough Fair is unknown. The song was sung by bards (or shapers, as they were known in medieval England) who went from town to town, and as they heard the song and took it with them to another town, the lyrics and arrangements changed. This is why today there are many versions of Scarborough Fair, and there are dozens of ways in which the words have been written down.

um abraço
Jorge

MPS disse...

Jorge:

De facto, não me chegou nenhum comentário teu anteriormente. Mas chegou este, desenvolvendo aspectos que eu apenas aflorei, já que a minha ideia era, tão-só, contextualizar o poema de modo a permitir outra interpretação que não fosse a da simples beleza das palavras.

Tenho pena de não saber incluir a música, como tu tão bem fazes, mas parece-me que é uma melodia univeralmente conhecida, por isso não deve fazer muita diferença.

Obrigada pelas tuas palavras

Jorge P. Guedes disse...

MPS, quando quiseres incluir uma música, se não souberes, só tens de me solicitar uma mãozinha.
(O comentário era o mesmo, só que fiquei com a impressão de não ter ficado salvo pelo bloggere,por isso, repeti.Pelos vistos, não tinha ficado mesmo à espera de aprovação.)

Um abraço
Jorge

MPS disse...

Obrigada pela oferta.

O blogger, de vez em quando, prega partidas. Da minha parte, aos comentários faço-os esperar pelo tempo que tenha livre. Por exemplo, este fim-de-semana não poderei ver nenhum, porque estarei distante de teclados e monitores...

É verdade que não publico todos os comentários - os de mau gosto e aqueles que são publicidade (como me ensinaste a fazer).

Bom fim-de-semana!

Jorge P. Guedes disse...

Façam o favor de não dar qualquer importância à nota da autora no que se refere ao Jorge G.
Colaborar é o que se deve fazer com os amigos. E foi isso que eu fiz.
A música soa pelas mãozinhas de quem lá a botou, isto é, a nossa amiga MPS.
Assim, apenas talvez tenha ficado ainda mais bonitinho o belo artigo que publicou.

Jorge G

MeMyself&I disse...

Sabes, tenho o cd do Garfunkel, ele apenas. Tem quase todas as canções conhecidas de Simon & Garfunkel. A voz de G. é, de facto muito mais melodiosa, mas de a de Simon complementa-a nos registos mais graves. Curioso neste cd que tenho é uma canção do pequeno Garfunkel. Nessa altura um genuíno anjinho louro à imagem de seu pai. Hei-de gravar-to e enviá-lo pela V.

Um abraço

MPS disse...

Jorge:
é a tua modéstia a falar. Por mim ainda tenho que acrescentar: obrigada!

Miguel:
que gentileza a tua. Obrigada!