14/10/2006

Mértola, sempre a ensinar-nos

Em Mértola descobriu-se importantíssimo achado arqueológico. Como não se trata das pirâmides do Egipto, foram muito poucos os meios de comunicação social que a noticiaram. Fê-lo a Antena1, com o meu aplauso.

O achado é um tesouro para a percepção do povoamento da zona: muralhas da Idade do Ferro (ainda por datar rigorosamente, mas o ferro chegou cá no séc. VIII a.C.); uma casa do séc. VI ou VII (sendo, seguramente, visigóticas) sepulturas do período almóada (posteriores, portanto, ao séc. XII. A entrada almóada em Portugal foi travada em Tomar em 1190 pelos Templários); um forno cerâmico do séc. XVI recheado de materiais da última produção. Além disto, ainda foram referidas, sem serem identificadas, “estruturas romanas” entre os sécs. II a.C. e II d.C.

Descoberta espantosa!

Estou particularmente curiosa quanto aos achados da Idade do Ferro. Será que trazem informações sobre a tão pouco conhecida civilização Tartéssica? Pela forma como foram designados, o mais provável é que não, mas pode ser… pode ser…

Lembrei-me de mim, jovem estudante, em campanhas arqueológicas Alentejo dentro. Com que entusiasmo encontrei, numa delas, perto de Ferreira do Alentejo, uma esculturazinha igual a esta:


Era uma deusa com olhos de sol (como baptizá-la de outro modo?), divindade adorada pelos Tartessos, povo que sabemos ilustre, que ocupou o Sudoeste da Península Ibérica enquanto os Celtas ocupavam quase tudo o resto. A Bíblia refere-se-lhes e os gregos também, nomeando a sua riqueza. Muitos arqueólogos têm-se dedicado a procurá-la, vão encontrando algumas coisas, mas a sua mítica capital (junto do Guadalquivir?) mantém-se oculta. Sabemos que decaíram com as rivalidades entre gregos e fenícios e que as guerras púnicas, travadas entre cartagineses e romanos lhe terão apressado o fim. Sabemos isso e já é muito, se pensarmos que, até há pouco tempo, se acreditava que Tartessos era uma lenda.

7 comentários:

Anónimo disse...

Para a descoberta de mais tesouros arqueológicos, só há uma solução barata e suportável pelo excelso governo da Nação:
Nitroglicerina pura sem diluentes.

Nitro

MPS disse...

Suponho que a receita a aplicarias ao "governo da nação", não aos achados! Ou isso diz-te assim tão pouco?

Anónimo disse...

Não! Errado!!!

Aplicá-la-ia para abrir buracos que proporcionassem a descoberta de achados que MUITO me dizem ,sim!

Nitro, o abominável Homem dos Blogues.

MPS disse...

A arqueologia faz-se retirando camada fina após camada fina, condição necessária à identificação da estratigrafia e à recolha intacta dos objectos tal e qual se encontram. Só assim se pode estabelecer uma datação e recolher amostras não contaminadas de carvões, cerâmica, etc. que permitam a datação por métodos mais rigorosos. Mas claro, há quem pense que isto são manias de arqueólogos.

Jorge P. Guedes disse...

Embora envolto em muitas dúvidas e mitos, pensa-se que a vinha terá sido cultivada pela primeira vez em terras da Península Ibérica (vale do Tejo e Sado), cerca de 2 000 anos a.C., pelos Tartessos, dos mais antigos habitantes desta Península, cuja civilização parece ter sido bastante avançada. Estes habitantes estabeleciam negociações comerciais com outros povos, permutando diversos produtos, entre os quais o vinho, que veio a servir, provavelmente, de moeda de troca no comércio de metais.

Um abraço
Jorge

MeMyself&I disse...

Esse teu achado parece-me um abdómen feminino, cujos seios são igualmente sóis. Quase que se percebe o prolongamento dos braços.

MPS disse...

Jorge:

e o sal, a nossa eterna moeda de troca! Obrigada pela achega.

Miguel:

São figuras nitidamente antropomorficas, embora sem as formas definidas. Não lhe distingo os seios, mas discute-se muito sobre o seu real alcance. Por causa do desenho dos "olhos", em regra considera-se que são divindades relacionadas com o culto do Sol e, por conseguinte, associadas à agricultura. Inserimo-las, pois, no conjunto dos cultos agrários. O meu achado está no museu de Ferreira do Alentejo; esta fotografia cacei-a na internet, o que não faz diferença porque elas são todas semelhantes.

Um abraço