24/10/2009

Do Fialho de Almeida

À parte outras virtudes, a política tem esta de prática: tira os vadios do caminho da cadeia, e pespega com eles no caminho da fortuna. Há safardanas que estavam hoje de capuz na Penitenciária, se S.M. os não tem posto de farda nos conselhos da coroa. O cadastro dos mesmos crimes dá aos malandros destino antípoda, conforme o edifício público em que se faz visar: - o Governo Civil chancela gatunos; S. Bento, homens de Estado. Et plus cela change plus c'est la même chose.

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A instrução ficará assim nas mãos dum pessoal abstruso e ignaro, descultivado e indiferente (...).

Este pessoal, jungido do do famoso conselho de instrução pública, a quem se deve o estado humilhador do ensino actual, exercerá, segundo já por aí se diz, sobre escolares e professores, uma espécie de magistratura de carácter hierático e inviolável, reservando-se o direito de legislar sobre o que não conhece, de reformar o que lhe fizer conta, de impor às escolas os castigos e os prémios, quer a discípulos, quer a mestres, com solércia e aplomb, iguais aos que o foro privado da Universidade deixa exercer aos lentes, mesmo fora da alçada académica, sobre a desprotegida carneirada de estudantes.

Eu não quero pensar o que será o corpo docente das nossas escolas, onde, apesar da decadência do ensino, ainda podem contar-se muitas cabeças de excepção, mandado pelo Sr. Arroio e pelos gros bonnets do seu Ministério, nem vejo bem por que caminhos mentais derive a mocidade portuguesa, seguindo planos de estudo onde haja parágrafos do conselheiro Amorim, corrigidos pelo Luciano Cordeiro e pelo Alberto Pimentel. Lamento só, com uma filosofia desabusada, que, mercê das poucas-vergonhas vistas, me proibiu de há muito a indignação, lamento só que nem as matérias da ciência, nem os profundos prolblemas da educação, escapem ao dilúvio do amanuense que atola tudo, e pergunto a mim mesmo, se não é aviltante, irremissivelmente aviltante, para certas corporações superiores, esta lotaria política que põe sábios e antigos servidores, encanecidos nas austeridades da honra e do trabalho, à mercê do primeiro rapazola que o sr. Serpa e o sr. José Luciano se lembram de fazer ministro, e dos bisbórrias que esse ministro escolha para estado-maior dos seus estardalhaços (...).

Fialho de Almeida, Os Gatos

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Fialho tem, do Conselho de Instrução Pública do séc. XIX, a mesma visão crítica que eu tenho dos mestres saídos da escola de Boston que, tragicamente, lançaram ideias daninhas e práticas assassinas sobre o nosso sistema de ensino a partir dos anos 80 do séc. XX. São eles os agentes importadores do modelo americano das ciências da educação, designação que seria hilariante se a realidade que nos impuseram não fosse trágica. À estatística, ou a brandem como arma, ou jenuflectem perante ela como se ela fosse o credo da verdade e a medida de todas as coisas. A estatística é o dogma da religião que professam, a que chamam ciência. Os mestres de Boston, não satisfeitos por controlarem todo o processo da formação de professores, quiseram que as suas ideias tivessem forma de lei. Conseguiram-no, chegando ao Ministério da Educação na última legislatura. Por lá se mantêm, apesar de ser outra a ministra. Queira Deus que eu me engane como o (às vezes reaccionário) Fialho se enganou tantas vezes.

Das restantes acusações que Fialho faz, nem me apetece falar!

Faz sentido, ainda!





O microfone e a lente são incapazes de captar a atmosfera que se respirou, ontem à noite, no Campo Pequeno. Foi muito bom. Eh! Companheiros!

06/10/2009

Gracias a la vida

Quatro versões de uma só canção que estará na memória afectiva de muitos de nós. Começou no Chile, pelas mãos e voz de Violeta Parra. Depois correu o mundo inteiro, sendo a voz cheia e intensa de Mercedes Sosa aquela que, certamente, lhe deu maior visibilidade e alcance. Mercedes Sosa está, agora, a encher de encanto todo o espaço do céu.