O primeiro parto que ela fez, há-de ter sido experimentando os gestos que outra mulher, antes dela, terá feito nela. Todos os outros foram, certamente, mais fáceis. Quando chegou a minha vez, o único suspiro dado foi, concerteza, de cansaço.
"A minha mãe - confidenciou-me a filha - quando o menino não queria nascer, metia as mãos pelo corpo da mulher, rentes às paredes, e, com muito cuidado, ia puxando devagarinho até que, por fim, o chagouro vinha ao mundo."
Não sei se foi assim que nasci, mas as mãos da ti Carolina foram as primeiras a ampararem-me.
Há mais de quarenta anos nascia-se assim por não haver maternidades.
Hoje ninguém nascerá assim, mas à mulher grávida vai-lhe ser exigido que se desloque dezenas de quilómetros (às vezes, mais de uma centena!), e que tenha o seu filho em terra estranha, provavelmente só porque, àquela distância, o marido não pode acompanhá-la, por ter que marcar presença no trabalho. Neste ponto, que ninguém se atreva a falar-me dos direitos legais de paternidade porque, quem tal invocar, prova que desconhece o país em que vive. Aliás, deve ser esse desconhecimento que explica tanta decisão tão mal tomada, como é esta de encerrar maternidades a torto e a direito.
A decisão, assumida como irrevogável pelo Sr. Ministro da Saúde, de encerrar maternidades, retira a alguns cidadãos nacionais o direito à naturalidade (nem que seja a do distrito!) e trata esses mesmos cidadãos de forma desigual. É dever do País promover a igualdade de direitos; o contrário disso não é democrático! Dito de outro modo: estamos a assistir a uma divisão do País em duas partes: a dos cidadãos que contam e a dos outros. Para uns, a democracia e o bem-estar; para os outros, o abandono à sua sorte, com autorização de deslocação para para o inferno das Amadoras e dos Cacéns.
Em vez de se promover a fixação das gentes nas suas terras, estimula-se o contrário. Os nossos governantes só me provarão que estou errada no dia em que a escola e a maternidade encerradas forem substituídas por espaços de apoio aos idosos. Se isso não for feito (e não será!) alguém tem que os convencer a voltar à escola para aprenderem o que é a democracia, já que os seus corações não sabem o que é a equidade.
Geograficamente, os outros são a maior parte de Portugal, terras de que, quem sabe, alguém quererá fazer coutada.
Que ninguém conte com a minha parte!
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