com sua chuva doce e benfazeja,
sua neve calma, bela e límpida
e seu frio útil e retemperador!
Seja muito bem-vindo, senhor Inverno, pela promessa do recomeço!
Fotografias gentilmente oferecidas por minha irmã A.M.
Porque o chedre sempre torna à sua urzeira
Seja muito bem-vindo, senhor Inverno, pela promessa do recomeço!
Fotografias gentilmente oferecidas por minha irmã A.M.
Lido imediatamente a seguir ao Ensaio sobre a Cegueira, este segundo Ensaio soube-me a pouco. Agora que reli as minhas notas...
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Não vindo totalmente a despropósito: Pacheco Pereira publicou um artigo admirável na Sábado e que transcreveu para o seu Abrupto. Fala da publicidade do governo, de um mundo que querem mostrar admirável mas que é (seria) horrendo. Vale a pena ler.
Esta merece honras de publicação. Nem imagino quem seja o autor, mas faz-nos rir no meio da desgraceira e, só por isso, vale a pena. É a visão de um brasileiro.
Para quem não entendeu ou não sabe bem o que é ou gerou a crise americana, segue breve relato econômico para leigo entender...
É assim:
O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça "na caderneta" aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobre preço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).
Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifudeu !
Viu... é muito simples...!!!
Poema de Sergio Ortega
Feita em Lixboa viinte e oyto dias de Joynho. El-Rey o mandou. Afomsso Martins a fez era de mil trezentos trinta nove annos. [Para os mais distraídos: 1301 da era de Cristo.]
Borges de Figueiredo, ao interpretar o túmulo de D. Maria Afonso presente no mosteiro de Odivelas deduz que esta monja será a filhas nascida destes amores de D. Dinis. Teria vindo ao mundo cerca de 1302 e morrido com 18 anos de idade. Ganhou fama de santidade. Deve ter saído à madrasta!
Botticelli, ilustração para o Canto XVIII do Inferno de Dante
Alguém se lembra, ainda, desta maravilha? Quem se lembra que o autor se chama Geraldo Vandré e que a escreveu para a realidade da ditadura brasileira, irmã gémea da nossa?
Palavras simples, mas que interpelam tanto!
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...
Vem, vamos embora...
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora...
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora...
Também os galos deixaram de saber às quantas andavam e, por isso, num dia em que o atraso foi ainda maior, eles e os relógios queixaram-se ao Tempo, "senhor de todos eles". O Tempo, para quebrar a monotonia da eternidade, aceita não castigar a Manhã se ela lhe contar a história que a fez atrasar-se tanto. E a Manhã conta-lhe a história que ouviu do Vento sobre os amores do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá, história que não pode ter desenlace feliz, pois não se está mesmo a ver que os gatos e as andorinhas foram sempre inimigos figadais?
É no Outono que os protagonistas percebem que o seu amor não pode durar. Jorge Amado dá-nos conta da mudança com as seguintas palavras:
No outro dia o Outono chegou, derrubando as folhas das árvores. O Vento sentia frio, e, para esquentar-se, corria zunindo pelo parque. O Outono trazia consigo uma cauda de nuvens e com elas pintou o céu de cores cinzentas. (p. 85)
A Andorinha Sinhá casa-se com o rouxinol.
No momento em que o cortejo nupcial, numa revoada, saía da capela, a Andorinha viu o Gato no seu canto. Não sei que jeito ela deu no voar que conseguiu derrubar sobre ele uma pétala de rosa, das rosas vermelhas do seu buquê de noiva. O Gato a colocou sobre o peito, parecia uma gota de sangue. (...) Já não havia futuro com que alimentar o seu sonho de amor impossível. Noite sem estrelas, a da festa de casamento da Andorinha Sinhá. Apenas uma pétala vermelha sobre o coração, uma gota de sangue.
A música doía-lhe no coração. Canção nupcial para os noivos; para o Gato Malhado, canto funerário. Tomou da pétala de rosa: olhou mais uma vez o parque coberto pelo Inverno, saiu andando devagar. Conhece um lugar longínquo, onde vive apenas a Cobra Cascavel, que ninguém aceita nos parques nem nas plantações. O Gato tomou a direção dos estreitos caminhos que conduzem à encruzilhada do fim do mundo. (pp. 107-109)
Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Publicações D. Quixote, 2002