18/05/2006

LÁ ESTIVE

Pois lá estive: a horas e ao ritmo da lesma, a ler o que me mandaram ler.

"Fui claro(a)? Querem perguntar alguma coisa?"

Que aquela pessegada não contará para nada nas suas vidas, já eles todos sabiam, porque os directores de turma tinham cumprido o seu dever de informar. As dúvidas, poucas, viriam lá mais para diante:
-"que quer dizer 'dista'? e 'determina'?
- "Não, meus queridos, não posso esclarecer-vos!"- respondia-lhes enquanto me remoía por dentro. Então não querem ver que aos catraios, na prova de Matemática, não se pede que saibam calcular (é autorizado o uso da calculadora!) mas exigem-se competências linguísticas?! Se 'determina' pode ser considerado vocabulário da disciplina, o mesmo não se pode dizer do verbo distar! Por esta altura lembrei-me bastante do artigo que V. Graça Moura escreveu ontem, no DN, a propósito do ensino e do que se pede, nos exames, aos alunos. Tudo se conjuga!
A meio da prova vinha a bizarria. Não fosse o diabo tecê-las, e a gaiatada não saber o significado de "pára aqui", o "Pára aqui" aparecia ao lado de um belo "stop" em tons de cinza, na sua magnífica forma hexagonal. Não, meninos, o stop é para parar: poisem lápis e canetas, borrachas e afia-lápis, réguas e calculadoras. Durmam uma sesta, apeteceu-me dizer! Se o não disse foi por não querer que a minha rebeldia fosse confundida com insurreição.
Não sei se o tempo lhes sobrou porque não responderam (por não perceberem o que lhes era pedido?), ou se lhes sobrou porque a prova era fácil ou, ainda, porque a prova era pequena. Mas sobrou-lhes tanto tempo! Dispunham de 50 min. para cada parte; gastaram, em cada uma, 20 min. E eles sem poderem conversar! E nós a termos de gramar o conhecimento empírico da relatividade do tempo!

Ah! é verdade, para não estarmos a pastar no tempo, enquanto lhes era vedada a observação da prova (embora a tivessem à frente por terem de preencher o cabeçalho), ensinei-lhes o que é um octógono! Também aprenderam o que é a ironia, enquanto me ouviam ler, de forma expressiva, a palha que não me apetecia servir-lhes.
"Fui claro(a)?"
"Siiiiiim! E de que maneira!!!!"

P.S.

À tarde eu não tinha aulas. As minhas turmas também não. Mas uma turma inteira foi à escola, porque eu queria que visse "O Grande Ditador" de Chaplin. Ofereci o meu tempo aos meus alunos, porque as benditas provas da manhã nos tinham comido os 90 minutos a que o horário nos dá direito. A notícia do muito tempo que os professores oferecem aos alunos nunca chega aos responsáveis. Quem diz que não sabe, sempre pode afirmar o contrário como a verdade.

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