"Fui claro(a)? Querem perguntar alguma coisa?"
Que aquela pessegada não contará para nada nas suas vidas, já eles todos sabiam, porque os directores de turma tinham cumprido o seu dever de informar. As dúvidas, poucas, viriam lá mais para diante:
-"que quer dizer 'dista'? e 'determina'?
- "Não, meus queridos, não posso esclarecer-vos!"- respondia-lhes enquanto me remoía por dentro. Então não querem ver que aos catraios, na prova de Matemática, não se pede que saibam calcular (é autorizado o uso da calculadora!) mas exigem-se competências linguísticas?! Se 'determina' pode ser considerado vocabulário da disciplina, o mesmo não se pode dizer do verbo distar! Por esta altura lembrei-me bastante do artigo que V. Graça Moura escreveu ontem, no DN, a propósito do ensino e do que se pede, nos exames, aos alunos. Tudo se conjuga!
A meio da prova vinha a bizarria. Não fosse o diabo tecê-las, e a gaiatada não saber o significado de "pára aqui", o "Pára aqui" aparecia ao lado de um belo "stop" em tons de cinza, na sua magnífica forma hexagonal. Não, meninos, o stop é para parar: poisem lápis e canetas, borrachas e afia-lápis, réguas e calculadoras. Durmam uma sesta, apeteceu-me dizer! Se o não disse foi por não querer que a minha rebeldia fosse confundida com insurreição.
Não sei se o tempo lhes sobrou porque não responderam (por não perceberem o que lhes era pedido?), ou se lhes sobrou porque a prova era fácil ou, ainda, porque a prova era pequena. Mas sobrou-lhes tanto tempo! Dispunham de 50 min. para cada parte; gastaram, em cada uma, 20 min. E eles sem poderem conversar! E nós a termos de gramar o conhecimento empírico da relatividade do tempo!
Ah! é verdade, para não estarmos a pastar no tempo, enquanto lhes era vedada a observação da prova (embora a tivessem à frente por terem de preencher o cabeçalho), ensinei-lhes o que é um octógono! Também aprenderam o que é a ironia, enquanto me ouviam ler, de forma expressiva, a palha que não me apetecia servir-lhes.
"Fui claro(a)?"
"Siiiiiim! E de que maneira!!!!"
P.S.
À tarde eu não tinha aulas. As minhas turmas também não. Mas uma turma inteira foi à escola, porque eu queria que visse "O Grande Ditador" de Chaplin. Ofereci o meu tempo aos meus alunos, porque as benditas provas da manhã nos tinham comido os 90 minutos a que o horário nos dá direito. A notícia do muito tempo que os professores oferecem aos alunos nunca chega aos responsáveis. Quem diz que não sabe, sempre pode afirmar o contrário como a verdade.
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