27/02/2008

Avaliações

1 - Os serviços do M. Educação avaliam as direcções das escolas e os coordenadores de departamento.

2 -
As direcções das escolas avaliam os coordenadores de departamento e restantes professores.

3 -
Os coordenadores de departamento avaliam os professores dos seus departamentos.

4 -
Para todos: membros da direcção; coordenadores e restantes professores há quotas na atribuição das duas classificações máximas, ou seja:

quem avalia é candidato à mesmas (escassas) classificações dos avaliados.

Onde está a seriedade do processo?

Mas só eu é que reparo nisto?

24/02/2008

Hino


Procuro-te e invoco o teu nome
Ó benfazeja!
Quando te derramas sobre a Terra
É como se mil dedos lhe acariciassem o corpo
E os passos de mil pardais
A tocassem levemente
Fazendo ecoar infinitos e ínfimos tambores.

És o corpo bem-amado
Que a terra, ventre sequioso,
Espera e recebe em espasmo.
És o sémen que os céus vertem
Para que a vida se multiplique e seja pródiga.

Quando vens,
Ó chuva,
Os meus sentidos cantam de alegria!

23/02/2008

A Grande Porcaria

António Barreto já tinha escrito, no Público, um artigo sobre o afã legislativo do Ministério da Educação. Que digo eu? Barreto não escreveu; transcreveu um punhado de decretos, correcções dos decretos, explicações dos decretos, aditamentos às correcções e aditamentos às explicações, despachos normativos, explicações e correcções dos despachos normativos que, a toda a hora, brotam do Ministério da Educação como erva má em terra boa.

Grande parte das decisões legislativas vem do Parlamento e hoje deparou-se-me este primor: a Lei n.º 11/2008 de 20 de Fevereiro cujo intróito reza assim:


Lei n.º 11/2008 de 20 de Fevereiro


Procede à primeira alteração à Lei n.º 53/2006, de 7 de Dezembro, torna extensivo o regime de mobilidade especial aos trabalhadores com contrato individual de trabalho, procede à vigésima sexta alteração ao Decreto Lei n.º 498/72, de 9 de Dezembro, que consagra o Estatuto da Aposentação, procede à segunda alteração à Lei n.º 60/2005, de 29 de Dezembro, procede à primeira alteração à Lei n.º 52/2007, de 31 de Agosto, e cria a protecção no desemprego de trabalhadores da Administração Pública.


Ou seja: cada lei aprovada é tão mal feita que, de imediato, é necessário proceder à sua alteração! Que se passa com a Assembleia da República? Tristemente, amargamente, sou obrigada a concluir que a casa da democracia está habitada por gente inapta e relapsa.

Este assunto merece ampla reflexão, mas agora fico-me pela primeira, que é a da crescente subordinação do poder Legislativo ao Executivo. É do conhecimento público o mecanismo da produção legislativa, desde há alguns anos a esta parte: o governo quer, o governo propõe ou, se o não faz directamente, fá-lo através das instâncias partidárias da maioria; estas apresentam a proposta e a maioria no parlamento aprova. Tudo isto sem verdadeiro debate, porque debater implica ouvir os outros e implica, naturalmente, que quem faz a proposta tenha, ao menos, lido o que se propõe. Mas não! Os textos, parece, foram escritos à pressa, sobre o joelho, como quem tira notas enquanto alguém dita depressa de mais. Surgem as ideias e, sem qualquer maturação, imediatamente se fazem leis; como se não ouve quem as contradiz, o resultado é este absurdo legislativo de que a lei citada é exemplo flagrante e eloquente.

Tamanha incompetência é fruto da crescente falta de qualidade e preparação dos deputados. Os deputados, lembremo-nos, são eleitos em listas partidárias e escolhidos a dedo pelos partidos políticos. Grande parte dos nossos deputados a única coisa que fez na vida foi ser militante do partido. Ser militante tornou-se modo de vida, aquilo que põe o almoço na mesa e é por isso que eles não ousam, ou não sabem, pensar sem ser pela cabeça do chefe.


E assim fecha-se o círculo: com medo de perder o lugar e, provavelmente, sem disso terem consciência, os deputados submetem-se às decisões do partido que por sua vez se submeteu à voz do chefe sendo este, simultaneamente, o chefe do governo. Dito de outro modo:

o partido da maioria, porque tem maioria, funciona como parido único;
quem legisla, de facto, é o Governo e o Parlamento limita-se a dizer que sim.

Onde é que eu já vi isto?

17/02/2008

Projectos em vão

Tinha pensado escrever sobre o Cosovo, mas não há filosofia que resista a um jantar de casulas em dia de magnífica invernia.

Faltou o escano e a mesa preguiceira encostada ao borralho.

Sobrou o Cosovo que nos há-de custar mais caro do que todas as moedas do mundo. Oxalá me engane!

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Isto é batota, mas um texto tão bom sobre o assunto merece ser trazido para aqui, apesar de vir datado de alguns dias depois daquela que inicia este post. É de Ferreira Fernandes no DN de dia 19/02/08

Pandora era sedutora, seduziu Epitemeu, e era curiosa, abriu a caixa que o amante tinha escondida. Maldição, estavam lá todos os males. Isso foi no tempo dos gregos. Agora, países da União Europeia reconheceram a Caixa de Pandora. Destapado o Kosovo, porque não Miranda do Douro? Respondo: porque aquele senhor de boina que escreve quinzenalmente no Público em mirandês é um homem atilado, e não exige a independência do Menino Jesus da Cartolinha. Senão... Infelizmente, os albano-kosovares, quando usam boina, não usam nada debaixo e lá temos o Kosovo independente. Já agora, porque não o Gora/Dragashi? Estão a ver o mapa do Kosovo? É aquela pontinha à esquerda, a mais a sul. Vivem lá os gora, muçulmanos como os albano-kosovares, mas sérvios de etnia. O suficiente para os independentistas de hoje os expulsarem dos empregos e das escolas. Os gora fugiram para a montanha. Eu visitei-os. Na montanha eles são maioritários. Não há um país que os reconheça?
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Deus poderá não jogar aos dados, como diz Einstein, mas os políticos da nossa era jogam-nos a todos... a feijões!

09/02/2008

Bem me parecia!

Confesso que procurei este voto de pesar em especial. Encontrei-o no BLOGUITICA (ainda se lembram?).

Novembro de 2004: o voto de pesar pela morte de Yasser Arafat, apresentado pelo PS, foi aprovado com votos favoráveis de toda a oposição, merecendo no entanto a abstenção do PSD e os votos contra de alguns deputados do PP.

As preocupações com a História são recentes ou são desculpa esfarrapada para o encobrimento da infâmia?

06/02/2008

AS PESSOAS AMADAS

Em que etapa das nossas vidas fomos perdendo as pessoas amadas?

Foi raiva? Capricho? Incúria? Fomos nós que abanonámos as pessoas? Foram elas que nos deixaram para trás sem verem que não lhes acompanhávamos o passo?

Às vezes, os seres amados estão à curta distância de uma palavra carinhosa. Porque não proferimos essa palavra? Porque não a proferem eles?

São tantas as pessoas amadas que esticam o vazio da nossa solidão!

01/02/2008

Regicídio

O CAÇADOR SIMÃO
(a Fialho d'Almeida)

Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lobrega e silente ...
Corta a mudez sinistra o mar profundo ...
Chora a rainha desgrenhadamente ...

Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É o princípe Simão que vae à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado ...
Morte tremenda, pavoroso horror !...
Sae das almas atónitas um brado,
Um brado immenso d'amargura e dor ...

Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É el-rei D. Simão que vae à caça.

Cospe o estrangeiro affrontas assassinas
Sobre o rostro da pátria a agonisar ...
Rugem nos corações furias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar !...

Papagaio real, diz,me, quem passa ?
_É el-rei D. Simão que vae à caça.

A Pátria é morta ! a Liberdade é morta !
Noite negra sem astros, sem faroes !
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infamia os sepulchros dos Heroes!

Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É el-rei D. Simão que vae à caça.

Tiros ao longe n'uma lucta accesa!
Rola indomitamente a multidão ...
Tocam clarins de guerra a Marselheza ...
Desaba um throno em subita explosão !...

Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão ...

(Vianna do Castello, 8 d'abril de 1890.Guerra Junqueiro)

O caçador Simão era Carlos Fernando Luís Maria Víctor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão: o rei D. Carlos. Guerra Junqueiro apela, inquestionavelmente, ao regicídio!


Formalmente, como todos os de Junqueiro, este é um poema magnífico. Mas é o conteúdo que agora me importa.

Nas duas primeiras estrofes acusa-se D. Carlos de ser mau filho, aludindo-se à sua ausência perante a agonia do pai. A ausência é real, mas D. Carlos fora enviado ao estrangeiro, numa daquelas viagens tão necessárias à educação dos príncipes reais. O príncipe cumpria o que lhe estava destinado!

As estrofes seguintes referem-se ao ultimatum britânico. “A Pátria morta; a liberdade morta”! A verve de Junqueiro é portentosa e a História contada por meio dá-lhe razão: Portugal recuou; os Braganças são os coveiros da grandeza Pátria! Mas isto é confundir, voluntariamente, a putrefacção do segundo rotativismo (esse sim, responsável pelas desditas nacionais) com o regime monárquico! Alguém, nos nossos dias, é capaz de responsabilizar a Presidência da República pela incapacidade dos partidos políticos enquanto governo e oposição?

D. Carlos foi um homem de bem, um homem da ciência e das artes. Na imprensa era ridicularizado (Eça, por exemplo) e apresentado como um ser vazio que apenas gosta da caça e da pintura. A demagogia tem destas coisas e o recurso à calúnia esteve sempre à mão de muitas campanhas políticas. É bom lembrar que escritores e caricaturistas tinham acesso livre à imprensa e também é bom lembrar que o Partido Republicano teve deputados eleitos no tempo de D. Carlos!

Matou-se o rei e D. Luís, o príncipe real. Dois anos depois implantava-se a República. Na primeira lei eleitoral da República retirou-se o direito de voto aos analfabetos. Na segunda retirou-se, explicitamente, o mesmo direito às mulheres. Qual o regime mais tacanho?

A democracia que agora somos devia ser capaz de prestar a devida homenagem a D. Carlos. Infelizmente, hoje como ontem, os demagogos estão a levar a melhor. Quem preza a justiça e a verdade não pode silenciar-se. Como republicana senti que tal responsabilidade me pesava mais.