10/05/2006

LIBERDADE

É o silêncio que oiço quando pergunto assim:

- "Que vos falta aqui?"

Hoje resolvi perguntar de outra forma:

-"Sois os empreiteiros que vão à Câmara apresentar e defender um projecto para o espaço que a nossa urbanização ocupa. Que cada um pense naquilo que gostaria que nascesse aqui, em vez daquilo que está.

E nasceram desenhos com legendas. Em todos havia prédios de habitação, poucos ou muitos, mas encostados a um canto. Em todos havia lugares de convívio e de comércio, espaços para a prática de desporto, escolas de todos os níveis, centros de saúde e polícia. Um deles até contemplava o cemitério, porque "é um despautério as pessoas morarem aqui e terem de caminhar distâncias para visitar os seus, sepultados em cascos de rolha!"

Mas o que predominava em todos os desenhos eram os espaços desocupados.

Que belos projectos! Alguém, nas Câmaras Municipais, deveria ter a incumbência de perguntar às pessoas!

Estes garotos, entre os 11 e os 15 anos, transformaram os seus projectos em manifestos contra os espaços prisionais que são estes bairros(?) a que chamamos urbanizações(!!!). A experiência física da falta de liberdade é a primeira a constatar-se e, embora a não nomeiem, é de liberdade que os garotos sentem falta. Porque nestes bairros há falta de liberdade! Liberdade de correr sem ser pelas ruas cheias de carros! Liberdade de conviver ao ar livre, nos jardins que não existem! Liberdade de respirar ar em vez de monóxido de carbono! Liberdade de olhar e ver a lonjura! Liberdade de estar em casa sossegado! Liberdade de estar na rua em segurança ("sim, porque nós temos medo de andar na rua!")...

Eu só encontrei uma falha nos anseios dos meus garotos: ninguém sugeriu uma biblioteca, um teatro, um cinema. Eles baixaram o olhar e sorriram, envergonhados, perante o meu reparo. "Disso não precisamos todos os dias", concluíram em jeito de quem se desculpa.

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