24/09/2006

Que a razão se faça ouvir: a lição de Bento XVI

Finalmente, as vozes da razão – aquelas que têm capacidade para tal – começam a fazer-se ouvir. Reconheço-lhes a dificuldade da missão, porque explicar o significado profundo de uma lição profunda é tarefa titânica porque a audiência, acostumada às tiradas bombásticas e às curtas frases de sujeito e predicado (às vezes, também, sem um deles), rapidamente se afasta dos textos longos e explicativos. Provavelmente, essas vozes conseguirão, apenas, dar argumentos àqueles que, com elas, já concordavam. Mesmo assim é importante que falem e que fique registado, por seu intermédio, que as pessoas do mundo inteiro não se transformaram todas em mentecaptas ou em medrosas ou em merdosas! Louvo-lhes a lucidez e a coragem.

Falo, naturalmente, da lição do Papa Bento XVI e das reacções que ela provocou. José Pacheco Pereira, no Abrupto, explicou porque é que os muçulmanos deviam levar a sério a interpelação do Papa e Maria José Nogueira Pinto, no DN, meditou sobre a importância da palavra. Pacheco Pereira teve, ainda, a bondade de indicar dois artigos excelentes, um no Le Figaro e outro Washington Post. Do artigo do Figaro, da autoria de Michel Fichant (professor na Sorbonne de História da Filosofia) destaco as seguintes passagens:

Il faut une bonne dose de sottise, de perversité – ou des deux –, pour trouver dans cette leçon magistrale une offense quelconque à l'égard de quiconque. Si le thème principal est le commentaire, superbement conduit, de la proposition : «Agir contre la raison est agir contre l'essence de Dieu», l'exposé comporte aussi, en contrepoint, une réflexion sur l'Université.

Celle-ci et ses professeurs, au-delà de leur spécialité, se voient assigner la tâche de «travailler dans le tout de la raison unique et d'exercer la responsabilité commune du juste usage de la raison».

(...)Le discours assurément n'est pas destiné aux foules. Les habiles et les affairés reprocheront sans doute à Benoît XVI de ne pas assez tenir compte de ce qu'il n'est plus professeur et que, comme pape, tout ce qu'il dit parvient aux oreilles de la foule. Mais si l'on comprend que le Pape ait dû exprimer ses regrets devant les réactions suscitées par un propos incompris, le professeur n'a pas à s'excuser d'avoir fait, et admirablement fait, son métier. Élitisme universitaire ? Peut-être.
Mais qu'on y prenne garde : ce serait une catastrophe pour l'Europe et pour l'identité de sa culture d'en rabattre, par lâcheté ou par ignorance, sur les exigences qui soutiennent cet élitisme-là.


O artigo do Washington Post, escrito por Charles Krauthammer serve-se da ironia e do humor, características humanas que, afirma, têm faltado a muitos muçulmanos. E mostra-lhes a contradição entre aquilo que, dizem, os ofende e as reacções face a essas ofensas. Destaco:

The pope makes a reference to a 14th-century Byzantine emperor's remark about Islam imposing itself by the sword, and to protest this linking of Islam and violence:

(…)In Mogadishu, Somali religious leader Abubukar Hassan Malin calls on Muslims to "hunt down" the pope. The pope not being quite at hand, they do the next best thing: shoot dead, execution-style, an Italian nun who worked in a children's hospital.
"How dare you say Islam is a violent religion? I'll kill you for it" is not exactly the best way to go about refuting the charge. But of course, refuting is not the point here. The point is intimidation
.

Haja quem escute estas vozes!

Sublinados meus

8 comentários:

MeMyself&I disse...

O M. Sousa Tavares também escreveu um artigo no Expresso sobre o mesmo tema. Deixou, quanto a mim, uma nota inegável:

"Não, o Papa não foi mal interpretado. Infelizmente para todos nós, ele foi demasiadamente bem interpretado pelos «ullemas» islâmicos. Era isso mesmo que eles queriam ouvir para legitimarem a sua «jihad», e agarraram com ambas as mãos a inesperada oferta papal: em lugar de um obscuro cartunista dinamarquês, agora têm o próprio chefe da Cristandade a desafiá-los."

Notícia completa em:

http://semanal.expresso.clix.pt/1caderno/opiniao.asp?edition=1769&articleid=ES232832

Jorge P. Guedes disse...

Entendo que o Papa está a dar demasiadas explicações das suas palavras.
Quem as entendeu...entendeu, quem delas faz trampolim para técnicas de envenenamento e de desgaste, que fique a falar para o ar!

Um abraço
jorge

MPS disse...

Ao desafio para o uso da razão vão respondendo com a barbárie. É obra!

MPS disse...

Jorge, inteiramente de acordo contigo. O Papa e a Santa Sé deviam calar-se ou, até, mostrar-se indignados pela deturpação feita.

Jorge P. Guedes disse...

Um grande abraço e muita, muita força!

MPS disse...

Obrigada, Jorge. Vamos enrijecendo à força!

Anónimo disse...

Passei para apreciar esta página agradável, que me atrai pela sua qualidade e desejar bom fim-de-semana. Até breve.

MPS disse...

Obrigada, pela gentileza, Jofre.