17/09/2006

Vamos por partes (III)

Volto à carga com os horários, embora não por causa deles. Este, que aqui reproduzo, era o meu do 7.º ano (actual 11.º e que, ao tempo, se designava oficialmente por 2.º do Complementar, embora ninguém o tratasse por esse nome ). Reporta-se ao ano de 1978/79. Aulas ao sábado e dois furos. Ninguém reclamou, apesar de vivermos o tempo de todas as possibilidades e de todas as contestações. Ao todo, 22 horas distribuídas por seis dias.

Chegava-se ao liceu depois de uma passagem de dois anos pela escola preparatória. O tempo do liceu era, pois, o da sedimentação da amizade porque a idade tal deseja e os cinco anos aí passados eram bastantes para que ela levedasse.

O horário que reproduzo já não é o do cartão oficial, antes, aquele que a minha amiga Isabelinha achou por bem fazer para mim, antecedido deste desenho com a sua legenda de ternura.

O liceu funcionava em dois turnos: manhã e tarde. Terminada a última aula, as funcionárias da limpeza entravam para varrer todo o espaço. Regressavam ao trabalho antes que se iniciasse o turno da manhã, para limpar o pó que se deixara a assentar durante a noite. Às contínuas (não confundir com as primeiras), que começavam o seu serviço pouco antes do início das aulas, era pedido que vigiassem os corredores, abrissem os livros de ponto, registassem as faltas de alunos e professores, tivessem disponível o material dos laboratórios, respondessem quando um professor, da sua sala de aula, tocava a campainha, etc. Parece que estou a falar de outro mundo! Hoje, exceptuando a vigilância de corredores, todas as tarefas das contínuas são exercidas pelos professores. A democracia despromoveu a ambos embora às contínuas que, de facto, prestam serviços de limpeza, lhes dê o pomposo nome de "auxiliares de acção educativa". Não bate a bota com a perdigota!

Este artigo não há meio de ter um nexo. Parece escrito pela Inês Pedrosa!

Vamos, então, ao que me importa, que é a questão do tempo e dos espaços. O tempo, já se viu, não estava sobrecarregado de aulas. As tardes livres e os furos significavam que os estudantes (éramos assim designados, porque seria?!) podiam aproveitar para realizar os seus trabalhos e completar os estudos nas enormes e muito bem fornecidas bibliotecas dos liceus. Quando é que os garotos de agora podem fazer isso? E com que disposição? E com que livros, sabendo que as bibliotecas escolares pouco mais são do que depósitos de manuais enviados pelas editoras? E com que critérios, com que possibilidades, pergunto ainda, conhecendo as enormes dificuldades de leitura com que a miudagem transita da escola primária? Que se pode pedir que leia, a quem quase não sabe ler?

Eu estudei no Liceu Maria Amália em Lisboa. Os estudantes dispunhamos:

  • de um enorme vestiário onde deixávamos casacos, mochilas, pastas de desenho, chapéus-de-chuva, etc. Era vigiado por uma funcionária que nos fornecia uma chapa de metal indicando o espaço em que tudo estava guardado. Actualmente é bar e sala de convívio;
  • de uma enorme sala de convívio equipada, entre outras coisas, com sofás, um piano e reproduções de grandes obras da pintura. Actualmente é o (muito bom) centro de recursos;
  • de uma enorme e excelente biblioteca;
  • de um enorme salão de festas equipado com palco. Nesse salão assisti a concertos de música dirigidos pelo maestro José Atalaya e à encenação de muitas peças de teatro. Guardo no coração O Judeu com a presença do próprio Bernardo Santareno. Também serviu para as inúmeras RGA e RGE que os anos de Abril permitiram. Felizmente, esse espaço mantém-se com as mesmas funções;
  • de um enorme e bem fornecido bar que também servia de cantina. Actualmente serve apenas esta última função;
  • de uma estufa que era um regalo para os olhos e de muitos (quatro ou cinco?) e grandes pátios para horas de prazer, de descanso e de brincadeiras. Os pátios estão, hoje, degradados. A estufa, sinal dos tempos, depois de se deixar perder, foi transformada em parque de estacionamento para automóveis;
  • de jardins bem cuidados a toda a volta do edifício, onde não faltavam bancos nem passagens empedradas para que pudéssemos passear sem estragar as plantas. Todas as portas de acesso esvam franqueadas. Hoje as portas estão fechadas e é a boa vontade de um ou dois professores que mantem esses espaços relativamente tratados;
  • de salas de aula enormes, de paredes espessas amenizadoras do frio e do calor, altas, permitindo que as várias janelas fornecessem luz e não incomodassem a vista para o quadro nem servissem de distracção a quem se senta perto delas;
  • etc.

Nem vale a pena enumerar as diferenças, tão gritantes elas são. As nossas escolas transformaram-se em depósitos de alunos e, com isso, perderam a primeira das suas funções que é a de serem lugar de aprendizagem e de aquisição do gosto pela cultura. Não há espaços, há cubículos sobrelotados. A democracia, como convinha que fizesse, alargou a escolaridade, mas não cuidou da educação. Aos professores tratou-os com o mesmo desvelo, retirando-lhes os espaços necessários à realização de um trabalho decente.

Quanto a mim, passei do tempo da contestação para o da constatação da minha impotência.

19 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Começo pelo fim. Constatação da "tua" impotência será, que da minha vou bem graças a Deus e aos amendoíns!

Mais a sério!
O que relatas do antigamente j são contos de fadas. Ficariam lindos na minha "Quinta dos Bichos."
Colocadas neste espaço para adultos, as tuas comparações resultam num espectáculo de tragi-comédia, sério, verídico, mas inócuo-receio!
Se não é assim, vejamos:
- Os pais dos nossos actuais alunos nasceram, na sua esmagadora maioria, depois da renovação de Abril.
Revolução, não, que nunca existiu!Volto a insistir. Passados estão 32(!) anos de desmandos e incompetência.
Os Senhores Doutores e Engenheiros da política actual são filhos dessa renovação falhada nos seus elementos essenciais, sendo que a cultura e a educação da população são os mais fundamentais.
Então, pergunto:
Porquê a admiração?
Para quê as comparações?
Para quê a contestação?
Constatadas, como muito bem referes, as nossas "constatações", só nos restam duas vias:
- Denunciar ou sucumbir!
No fundo, o teu artigo dá asas a ambas.
Só desejo que muitos pais o saibam ler!

Um abraço
Jorge

MPS disse...

Claro que é inócuo! Eu não sou primeira-minista nem conselheira de quem empunha o ceptro! Mas fere-me que o Salazar tenha tratado a educação com o desvelo que a democracia deveria ter. A democracia devia ter-se limitado a retirar do ensino a propaganda e as sevícias físicas; a actualizar os programas (obsoletos, em muitos casos); a alargar a escolaridade obrigatória e a rede escolar, incluindo as universidades. Se tivesse feito isso, estaríamos muito bem. Mas não: transformou-se a educação num laboratório permanente e no palco das vaidades efémeras de quem por lá vai exercendo o poder.

O que escrevo é inócuo, mas trago-o atravessado na garganta!

E, Jorge, Abril foi uma revolução. Como quero bem aos capitães que ma ofereceram!

Jorge P. Guedes disse...

MPS, não é o que escreves que é inócuo. É o que NÓS escrevemos!
Faltou-me esta parte,porque estava embrenhado no teu artigo.
Mas repara, no fim do comentário digo:
"...só nos restam duas vias:
- Denunciar ou sucumbir!
No fundo, o teu artigo dá asas a ambas.

Só desejo que muitos pais o saibam ler!"

Agora vou dizer-te porque disse que o 25 de abril foi uma Renovação.
Pretendeu sê-lo. O intuito dos militares fortes, e abençoados sejam!,foi fazer uma Revolução.
A grande maioria, filhos do povo, foram ingénuos como tanta outra gente.
Portanto, o 25 de Abril, o seu ideal, está comigo e perdurará.
Contudo, não deixaram os arrivistas que ele prosseguisse a sua marcha para a concretização do ideal revolucionário.
Para mim, uma Revolução assumidamente completa e eficaz passa, obrigatoriamente e antes de tudo o mais, por uma reformulação das mentalidades, uma forma nova e livre de educação das ideias e práticas de um povo.
Por isso lhe chamo hoje "Renovação".
Vieram novas práticas, novas ideias, limpou-se muita poeira e algum pó, chegaram técnicas que nos eram negadas, renovou-se a confiança,... e tudo isso foi óptimo, o abrir de uma janela para ar fresco e renovado entrar.
Mas "Revolução" não foi, com pena minha!
Os políticos não permitiram.
Querem o poder eterno, como alguns deuses menores.

Anónimo disse...

Um tema interessante exposto de modo a merecer anuência, nestes caminhos conturbados das novas pedagogias.

MPS disse...

Jorge

Compreendi bem o que quiseste dizer, até porque sei que o que nos dói, dói da mesma forma.

Uma revolução é sempre uma mudança de estrutura. A estrutura, em linguagem histórica, é o tempo longo. Portugal era:
- politicamente, uma ditadura. É uma democracia;
- geograficamente, um império de 500 anos.É um estado nação com limites geográficos definidos;
- economicamente, predominava a agricultura que, com poucas excepções, se servia de práticas medievais. Agora predomina o sector terciário. Era um país isolado nas suas relações económicas, hoje é membro de Comunidade Europeia;
- demograficamente e, em termos de mortalidade infantil, as nossas taxas estavam ao nível do terceiro mundo. As taxas actuais colocam-nos entre aqueles cuja taxa é menor;
etc.

Falas-me das mentalidades. Estás a pedir o impossível. O tempo das mentalidades é aquele que mais tempo leva a transformar-se.

Não podemos confundir revolução com mudança rápida. A maior revolução da História foi a revolução neolítica, em que o Homem passou de caçador a pastor; de recolector a agricultor e de nómada a sedentário. Tal processo iniciou-se há cerca de 10000 anos e ainda não está concluído, pois em todos os continentes há povos nómadas e, à excepção da Europa, em todos os outros continentes há povos que vivem da recolecção e da caça.

Uma revolução para ter os efeitos de transformação total deve, pois, demorar muito tempo e o processo está cheio de tentativas falhadas e de erros graves. Não desesperes se Abril ainda não abriu todas as portas. Demos-lhe o tempo necessário, embora lhe sintamos a urgência!

Um abraço

MPS disse...

Jofre:

Obrigada pelas suas palavras que são um consolo.

Jorge P. Guedes disse...

Continuo a pensar que a Revolução autêntica não existiu, pelas razões que já deixei expostas. Tal tem a ver com o meu conceito, porventura historica ou filosoficamente errado.
Quanto ao que Portugal era e é hoje, nunca disse que estamos como dantes. Porém, os avanços conseguidos, fizeram-se à custa de quem? De políticas correctas ?
E continuo a perguntar: O que fizeram 31 Ministros da Educação em 32 anos de governação?!
Engordou-se um Povo para o deixar à míngua num aspecto FUNDAMENTAL para o seu crescimento enquanto Povo e Seres Humanos ?

É o que eu penso, Maria!

Um abraço
Jorge

Jorge P. Guedes disse...

Acabei de escrever um comentário que o "Blogger" tragou.
Impossível repetir o que escrevi.
Vou apenas resumir,e vamos ver se terei sorte desta vez!

O meu conceito de Revolução já o expressei.
Nunca insinuei que nada mudou. Era o que mais faltava, 32 anos passados. Claro que se introduziram algumas melhorias. Até a Albânia evoluiu!
Mas tudo o que foi conseguido, foi-o à custa de quem ?
De políticas correctas ?
O que fizeram 31 Ministros da Educação em 32 anos de poder?
Que revolução é esta que não forneceu ao Povo o seu principal instrumento para se tornar moderno e evoluído - a cultura?

Um abraço e um Bom Ano lectivo para ti que bem mereces.

Jorge

MeMyself&I disse...

Ena pá, eu jurava a mim memso que precisava de descansar, mas ao vir aos vossos "blogues" não resisti a comentar. Queria "entrar" por este artigo dentro, mas a capacidade física não mo permite.

Quero, contudo, e em primeiro lugar, elogiar a M. por mais um excelente artigo - está espectacular! A complementá-lo, a aferição de ideias entre a M. e o Jorge!

Deixem-me então começar apenas por dizer (o tempo escassea e o sono esfuma-se-me por entre os dedos) que discordo da M. quando diz que as mentalidades demoram muito tempo a mudar. Acho que as mentalidades mudam quando há um esforço efectivo por mudá-los e isso consegue-se em poucas dezenas de anos. Olhemos para os espanhóis - têm a mesma mentalidade que nós? Ou não acharão vocês, que melhor que eu, decerto, conhecerão já a Espanha, que "nuestros hermanos" se afastam de nós a uma velocidade estonteante. Mais, se as mentalidade demoram tanto tempo a mudar M., então o interregno de 40 anos de ditadura na nossa história não deveria ter sido suficiente para abrandar a nossa evolução! E eu falo apenas da evolução a nível social!

Mais tarde complementarei!

Um abraço

MeMyself&I disse...

Jorge- a "revolução" como a entendes, não necessitará de sangue? O sangue é a nódoa mais eficaz na "remoção das mentalidades instituídas" (passe o paradoxo); atenção que não estou com isto a dizer que defendo a revolução sangrenta! Contudo, admito, é uma interrogação retórica! Que me dizem?

Abraço

MPS disse...

As revoluções são sinergias. Simultaneamente existem sinergias contrárias. Há, pois, que fazer o balanço de ambas.

O ministério da educação, repito, transformou-se em feira de vaidades de quem, por lá, vai aquecendo mais ou menos tempo a cadeira. É trágico. O contributo da educação para a revolução foi, por isso mesmo, bastante escasso. Quanto a isso estamos de acordo.

Um abraço

Anónimo disse...

Sobre este tema digo que não foi para isto que fizemos o 25 de Abril, mas foi para isto que “eles” fizeram o 25 de Novembro...., para todos sucumbirmos na apatia que já apresenta um nível quase irreversível. Para tal, falta só um bocadinho assim. Depois nada resta a fazer. Mas, não liguem, pois sou um caturra pessimista e incurável.

MPS disse...

Parece que todos falamos o dialecto dos afectos de Abril. Bem-vindo ao clube, Jofre.

Considero o 25 de Novembro um travão à revolução, mas sou incapaz de apodá-lo de movimento contra-revolucionário. Os homens do "grupo dos nove" também foram homens de Abril.

Outro assunto bem diferente, porque a conversa é como as cerejas: o último comentário do Jofre, naquilo que se refere ao 25 de Abril, fez-me lembrar o belíssimo "Quase" de Mário de Sá- Carneiro (excluindo o último verso...):

Um pouco mais de sol- e fora brasa
Um pouco mais de azul - e fora além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Alguém que mostra um amor tão grande pela sua terra e pela cultura poderá ser caturra, pessimista é que não!

MeMyself&I disse...

Devo ter perdido o meu comentário de onte à noite! Era tão tarde!

Bem, dizia respeito às mentalidades. Eu não acho que as mentalidades demorem muito tempo a mudar. O qe não há é uma vontade efectiva de se mudar e isso reflecte-se na nossa sociedade e inunda as salas de aula. Os filhos repetem as pegadas dos seus pais, mesmo que durante uma fase da sua vida haja uma certa rebeldia; o discurso de "no meu tempo" é cada vez mais frequente; ao invés, os mais jovens rejubilam pelo simples facto de , pasme-se, serem jovens - como se tal fosse um prémio. Não obstante, nada fazem nas suas vidas que permita glorificar a sua juventude. Num futuro próximo, será quase orgulho nacional dizer "Ena pá, bebi uma belas cervejas, apanhei umas bebedeiras, curti com X garinas, apanhei uma grande moca no concerto dos Bate n'avó". Por outro lado, eu sou o maluco, porque além de ter feito muito mais que tudo isso durante a minha juventude, ainda tive tempo de ler muitos dos clássicos da literatura, de ler a Bíblia, de ter boas notas, de namorar e de aprender a gostar de aprender e mais tarde de ensinar!

Em relação ao 25 de Abril, ainda no ano lectivo transacto, conheci um jovem da minha geração que me dizia que não era do 25 de Abril mas sim do 25 de Novembro - e dizia-o com orgulho!

MPS disse...

Quanto às mentalidade, Miguel, sem apelo nem agravo, elas integram o tempo mais longo da História. Costumamos dizer que são o tempo da permanência e já Marx, intuindo os ritmos da História, falava em superestrutura ideológica.

Quanto aos jovens, sabes bem, não tenho deles a visão negativa que apresentas. Em todas as gerações, de todos os tempos, houve jovens que se perderam e jovens que souberam fazer-se.

Quanto à preferência pelo 25 de Novembro, essa colega não é única. Lembro-me que, numa reunião de conselho de turma, o colega de C. Naturais vociferava contra o facto de a professora de História (eu) não ter ensinado o 25 de Novembro aos alunos de 9.º ano. Respondi-lhe, perguntando-lhe directamente (coisa que ele não tivera a coragem de fazer comigo...), se os mesmos alunos sabiam o que era uma corola. Que não, foi a resposta embatucada. Não te parece mais grave isso, sabendo que topam com elas todos os dias? Calou-se, pois claro! Então ensinei-lhe que Novembro só foi possível por causa de Abril. Mas fiquei-me por aí, porque não gasto Latim com asnos!

Um abraço

MeMyself&I disse...

Sabes o mais curioso e engraçado M.? Estamos a falar das mesma pessoa! Dado o sexo e o grupo disciplinar! Por delicadeza vamos deixar os nomes de parte, mas começava por A. :-) Eh, eh, curioso...

Quanto às mentalidades, eu não duvido que demorem muito tempo a mudar! O que acho é que se podem mudar rapidamente se houver vontade!

Um abraço
(o segundo de hoje, mas muito inferior ao primeiro)

MPS disse...

Parece que sim, então (ufa, afinal são menos do que já temia!).

O abaço só é inferior porque, desta vez, é à distância!

MeMyself&I disse...

Precisamente por ser à distânica... precisamente ;-)

MPS disse...

O blogger prega cada partida! Eu, confiante em que era avisada de todos os comentários que recebesse, quedava-me à espera. Pois... elas chegaram, mas só dei por isso depois da notificação de comentários aos dois artigos posteriores. Resumindo, comentários que os autores (Jorge e Miguel) davam por perdidos... estão publicados agora. Como a discussão acerca do conceito de revolução se prolongou nas páginas do Jorge e qualquer acrescento fica desactualizado e redundante face àquilo que, por lá, escrevemos, creio que os dois me não levarão a mal se não lhes voltar a responder aqui.

Um abraço