12/09/2006

Ora muito bem feita!

O Manuel Lameque era um caldeireiro que, apesar de baixo e feio, era um gabarolas. Gabou-se, certo dia, que as mais lindas raparigas de Penas Juntas (Vinhais) eram suas amantes. Elas, furiosas, não estiveram com mais aquelas e fizeram-lhe... o que vem escrito na letra da cantiga que se segue:

Malo haja o Caldeireiro,
mais a sua gabação
se não fosse o ele gabar-se
ou o capariam ou não.

No lugar de Penas Juntas
houve uma grande alegria,
caparam-no Caldeireiro,
foi mui grande tirania.

Se fordes por Penas Juntas,
Rapazes, tende cautela,
caparam-no Caldeireiro
lá na rua da Capela.

As moças de Penas Juntas
até aqui eram senhoras,
agora têm por notícia
de umas grandes capadoras.

No lugar de Penas Juntas,
ali no bairro primeiro,
lá na rua da Capela
caparam-no Caldeireiro.

Já toda a gente dizia:
agora ficou capado;
inda foi dali p'ró Vilar
c'o traste dependurado.

Assim que lá chegou
começou logo a gritar,
foi o médico de Vinhais
acabar de lo cortar.

Dia vinte oito de Março,
sábado d'Aleluia
caparam o caldeireiro
lá no meio da rua.

Sábado d'Aleluia
caparam-no caldeireiro,
p'ra não descobrir as moças
até lhe ofereceram dinheiro.

in P.e FIRMINO A. MARTINS, Folklore do Concelho de Vinhais, 2.º vol.

Pois que o exemplo pegue!!

12 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Por certo que o caldeireiro
teria mais desejado
q'outra coisa ao dependuro tivesse, essa sim, pegado!

MPS disse...

Desejo tinha de sobra,
de garganta nem se fala,
as moças de Penas Juntas
souberam mui bem calá-la!

Jorge P. Guedes disse...

Estás em forma!

MPS disse...

Vai-se fazendo por isso!

MeMyself&I disse...

Caldeireiro
Ou gabão
Não merecia o traste
Tamanha punição.

Vede bem a injustiça
Que nem já com a mão
Podia infeliz ser
Servir de galo capão.

MPS disse...

Que versejadores andamos todos!

Com que então, não merecia?! POis eu ainda acrescento:

Era galo sem poleiro
tinha, de trapos, a língua
dele todos vão dizer:
gabou-se? Pois morra à míngua!

MeMyself&I disse...

Morrer à míngua?!
Que vil sevícia imposta!
Morrer com o dito cujo
Cortado em mais de uma posta!

Anónimo disse...

Agradeço as amáveis palavras, contudo desmerecidas, que deixou no blogue COURA: magazine. São modestas nótulas linguísticas e fonéticas, fruto de recolha de muitos anos no meu concelho, a espera de algum destino que a Internet abreviou. Hoje com a escolarização e influência televisiva algumas – pouquíssimas, felizmente – destas características estão a desaparecer. Fiquei agrado com este e outro seu blogue, mais ainda ao saber que esta acrisolada paixão por Vinhais não se perdeu, pese embora o factor duma longa ausência. Aliás, o mesmo fenómeno se passa comigo. Vivo fora de Paredes de Coura desde 1970, embora me desloque lá 3 ou 4 vezes por ano. Bem-haja.

MPS disse...

Caro Jofre, palavras amáveis são as suas!

O curioso é que eu sou do concelho de Bragança, mas chegou-me às mãos a obra que tenho vindo a citar e que tem tornado deliciosas muitas horas dos meus dias (quando leio por prazer demoro muito tempo, para poder saborear cada palavra). Nessa obra encontrei, a par de muitas coisas que não conhecia, canções, jogos, palavras, etc. que me são familiares porque ouvi cantar, joguei e disse em criança mas que, porque as aldeias estão a morrer, já quase só existem na memória dos mais velhos e de todos quantos, como eu, têm um amor enorme à sua terra. "Também ou subo por i arriba mais ca poucas bezes ó ano"!

Um abraço

MPS disse...

Miguel:

As quadras à desgarrada
só têm vindo a provar
que os homens,sendo aos homens,
tudo querem desculpar!

MeMyself&I disse...

Eheheheh...

Oh minha amiga
em palavras muy generosa,
por aqui vou ficar, por te ter
por muy honrosa!

Um abraço M.

MPS disse...

Meu amigo, cá me fico
d'aqueste lado da vida
cuidando por, às dif'renças,
não colher nem dar guarida!

Também paro por aqui. És um rapaz assaz gentil.

Um abraço.