A mão é condição de humanidade!
Que fez o símio para deixar de o ser? Libertou a mão da marcha e tornou-se um de nós!
Nada, na evolução humana, é tão revolucionário como este acto. O primeiro ser a consegui-lo fê-lo há pouco mais de quatro milhões de anos e, na nossa necessária mania taxinomista, ainda o classificamos como “macaco” (piteco); como vivia a Sul, chamámos-lhe “austral”. É, pois, o Australopiteco o ser revolucionário que se não conformou com a condição de quadrúpede, apesar de ter a inteligência dos símios. Teria, certamente, dentição omnívora, mas a fragilidade física condenava-o à condição de herbívoro e de presa na cadeia alimentar.
Com a libertação da mão veio a verticalidade, ainda rudimentar no Australopiteco, mas ambas conferiam-lhe vantagens: de, erguido por entre a savana, avistar os predadores e fugir a tempo; e de não deixar para trás os alimentos recolhidos. A sua mão, de que não precisa para andar e que vai adquirindo um polegar oponível, permite-lhe segurar as coisas. Abriga-se e, abrigado, pode continuar a alimentar-se. A mão é a sua arma.
A mesma mão que trouxe a verticalidade obrigou a coluna vertebral a deslizar: ninguém, que queira caminhar verticalmente, pode suportar o peso de um crânio a empurrá-lo para a frente, desequilibrando-o. A coluna passou a assentar na base do crânio, permitindo-lhe que crescesse. Primeiro ganhou nuca; depois ganhou testa e depois cresceu em altura e, em cada etapa, ia aumentando a sua capacidade e a inteligência. Estas coisas aconteceriam mais tarde, com outros seres que estão na linha da evolução humana, mas tudo isto, desde os primeiros utensílios – os rudimentares seixos quebrados – até ao programa espacial dos nossos dias, só foi possível porque um ser, há quatro milhões e duzentos mil anos, decidiu que era melhor andar sobre dois pés.
Sem mão não haveria humanidade. Nem alimento semeado, nem poesia, nem esta quadra do Torga:
Foi a mão, como um ralo a semear
Que me disse que sim, que acreditasse
Que a vida é um poema a germinar
E portanto, cantasse.
Que fez o símio para deixar de o ser? Libertou a mão da marcha e tornou-se um de nós!
Nada, na evolução humana, é tão revolucionário como este acto. O primeiro ser a consegui-lo fê-lo há pouco mais de quatro milhões de anos e, na nossa necessária mania taxinomista, ainda o classificamos como “macaco” (piteco); como vivia a Sul, chamámos-lhe “austral”. É, pois, o Australopiteco o ser revolucionário que se não conformou com a condição de quadrúpede, apesar de ter a inteligência dos símios. Teria, certamente, dentição omnívora, mas a fragilidade física condenava-o à condição de herbívoro e de presa na cadeia alimentar.
Com a libertação da mão veio a verticalidade, ainda rudimentar no Australopiteco, mas ambas conferiam-lhe vantagens: de, erguido por entre a savana, avistar os predadores e fugir a tempo; e de não deixar para trás os alimentos recolhidos. A sua mão, de que não precisa para andar e que vai adquirindo um polegar oponível, permite-lhe segurar as coisas. Abriga-se e, abrigado, pode continuar a alimentar-se. A mão é a sua arma.
A mesma mão que trouxe a verticalidade obrigou a coluna vertebral a deslizar: ninguém, que queira caminhar verticalmente, pode suportar o peso de um crânio a empurrá-lo para a frente, desequilibrando-o. A coluna passou a assentar na base do crânio, permitindo-lhe que crescesse. Primeiro ganhou nuca; depois ganhou testa e depois cresceu em altura e, em cada etapa, ia aumentando a sua capacidade e a inteligência. Estas coisas aconteceriam mais tarde, com outros seres que estão na linha da evolução humana, mas tudo isto, desde os primeiros utensílios – os rudimentares seixos quebrados – até ao programa espacial dos nossos dias, só foi possível porque um ser, há quatro milhões e duzentos mil anos, decidiu que era melhor andar sobre dois pés.
Sem mão não haveria humanidade. Nem alimento semeado, nem poesia, nem esta quadra do Torga:
Foi a mão, como um ralo a semear
Que me disse que sim, que acreditasse
Que a vida é um poema a germinar
E portanto, cantasse.
4 comentários:
Interessante e curiosa ligação entre o corpo do texto e a quadra de Torga.
Em meia dúzia de linhas consegues explicar uma teoria da evolução de uma espécie e justificas a importância da mão( "sem mão não haveria humanidade").
Acho que usaste uma hipérbole para melhor se compreender a relevância do uso da mão.
Mas quem nos garante que, sem o recurso a ela, os nossos antepassados não poderiam ter evoluído para um ser humano necessariamente diferente do que hoje é?
Jorge
Acredita que não foi hipérbole: a História da Humanidade fundamenta-se na libertação da mão: os muitos seres (hominídeos) que integram a nossa linha de evolução têm todos a particularidade de terem libertado a mão da marcha e, apesar de não dispormos ainda da sequência completa, as transformações no esqueleto e no cérebro vão sendo cumulativas e, sempre, no sentido do aperfeiçoamento. Se não tivesse havido a libertação da mão não existiria Humanidade: somos únicos, enquanto os símios são múltiplos. E, mesmo quando existiam vários hominídeos em simultâneo no mundo (ou só em África, no que respeita aos primeiros), todos tinham essa característica em comum: a mão disponível e tudo o que a isso está associado.
Repara que prescindir da mão para caminhar significou perder coisas importantes, como a capacidade preênsil dos pés, o que nos retirou a possibilidade de nos abrigarmos nas árvores. Ora, se ficámos no chão, sujeitos a abrigos muito menos seguros, é porque a natureza, que selecciona as transformações mais eficazes, "considerou" que isso era bom.
Obrigada pelas tuas palavras, gentis como sempre.
Porca da Vila
Tem toda a razão: nem mesmo Leonardo conseguiu, no desenho da mão, a perfeição e o naturalismo que alcançou em todas as outras coisas que pintou. Foi por isso que, em vez de uma pintura, optei por uma fotografia para ilustrar o tema. É claro que as do Australopiteco eram um pouco mais simiescas do que as minhas...
Um abraço
Luísa:
Não tenho dúvidas! A evolução é um processo muito lento, por isso, quem vive as mudanças não dá por elas. Pensemos, no entanto, que nos nossos dias há milhões de pessoas a quem não nascem os dentes do siso, sinal inequívoco da influência da alimentação bem cozinhada e triturada: eles começam a ser desnecessários. Creio que as maiores transformações se estão a dar ao nível da utilização do cérebro, mas isso, a confirmar-se o que penso, só será confirmável daqui a largos milhares de anos!
Um abraço
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