05/11/2006

Mais corpos sem vida

Saddam Hussein foi condenado à morte. Ele e mais dois outros cúmplices da sua mania assassina. Sadam umas vezes fuzilava, outras vezes lançava gases tóxicos. A sentença que saía do seu pensamento, assinada por sua mão, era sempre a mesma: morte.

Sadam Hussein foi condenado à morte. O pensamento de alguém assim o determinou; as mãos de alguém assim o assinaram. Porque é que estes têm razão? Porque é que o pensamento destes e o gesto destes é diferente do pensamento e do gesto de Sadam?

O corpo de Sadam e o corpo dos que assassinaram em seu nome serão corpos somados aos outros corpos mortos. Mas a morte de Sadam vai outorgar-lhe a auréola das vítimas. Outra coisa, que não a verdade e a justiça, lucrará com o seu enforcamento. A democracia sairá a perder: quem não a conhecia, ficou a saber que ela também é capaz de matar. Que a distingue?

Digo isto porque não me apetece escrever sobre a barbaridade que é o enforcamento. Até na escolha do modo de matar, quem perde é a democracia. Da humanidade nem se fala!

4 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

É claro que se trata aqui de uma questão de "cumprimento de pena anunciada."
A partir da altura da sua captura, outro fim que não este jamais foi antevisto por mim.
Saddam Hussein teria de pagar pelos seus crimes repetidos. Mandou matar, e pouco me importa qual o meio utilizado, muitos milhares de pessoas e "matou" igualmente milhares de famílias das vítimas.
O que, de facto, é discutível tem a ver com a justiça que condenou o ditador.
Nunca duvidei que o julgamento fosse um mero oficializar de uma pena que lhe tinha sido já atribuída.
O julgamento, a ser efectuado nos Estados Unidos, teria de se efectuar num dos Estados onde a pena de morte ainda vigora. Isso traria aos E.U. a suspeita de haverem patrocinado um julgamento menos independente. Daria muito nas vistas!
Assim, como foi, sempre se dirá que quem o condenou foram as autoridades do seu próprio país!...

Mas, a condenação à morte não traz nada de bom para a democracia, como dizes.
A aura de mártir ser-lhe-á agora imposta por quem dela se quererá aproveitar.
E nós, ficaremos mais tranquilos, mais satisfeitos? Veremos o sangue das vítimas vingado, lavado?
Dir-se-á que é um aviso sério a futuros Saddams. Será?
Sócrates diz que "os EUA são "exemplo" na defesa dos Direitos Humanos."
A defesa desses direitos confere o direito de matar?

"Viva o povo e morram os seus inimigos. Viva a nação gloriosa e morram seus inimigos. Deus é grande, Deus é grande, Deus é grande!", gritou Saddam enquanto sua sentença era lida pelo juiz.



"Viva o povo e morram os seus inimigos. Viva a nação gloriosa e morram os seus inimigos. Deus é grande, Deus é grande, Deus é grande!", gritou Saddam enquanto a sua sentença era lida pelo juiz.
E ao ser levado para fora do tribunal, Saddam, bastante nervoso, disse a um guarda: "Não me empurre, garoto".
O ditador passou, desta forma, à galeria dos "mártires pela causa", nem sequer lhe sendo concedido que morresse fuzilado, como havia dito preferir.
Aceitou de pé, com ar digno e arrogância presidencial, a sentença de que por certo nunca duvidou.
O mundo democrático, e Saddam , mereciam bem uma pena mais dura!

MPS disse...

Subscrevo as tuas palavras, menos aquelas que falam em vingança das vítimas. Às vítimas deve-se justiça, nunca vingança. À democracia pede-se verdade e sentido de humanidade.

Mas, mesmo que se tenha da justiça apenas o sentido da utilidade, continuo sem perceber a quem serve esta sentença porque, em meu entender, é Hussein quem sai a ganhar. Nisso tu também concordas comigo.

Jorge P. Guedes disse...

Atenção, eu pergunto: "E nós, ficaremos mais tranquilos, mais satisfeitos? Veremos o sangue das vítimas vingado, lavado?"
Estas são perguntas que têm, para mim, dois nãos como respostas.
Talvez não me tenha expressado bem.

Um abraço.

MPS disse...

Nunca me passaria pela cabeça que respondesses sim! Eu é que interpretei mal as perguntas porque, por mim, faria outras: foi feita justiça? Respeitaram-se os valores humanistas? Só respondendo sim a estas duas é que posso concluir que quem julgou é diferente daquele que foi julgado.

Provavelmente não estou a ser capaz de me fazer entender: o excesso de trabalho faz destas coisas, e digo isto a pensar no comentário circular (repetitivo, redundante, pouco esclarecedor) que escrevi no teu Arauto.

Um abraço