13/07/2006

Lorca


Lorca foi das primeiras vítimas dos "nacionalistas". Inicio aqui uma sequência dedicada ao poeta que foi fuzilado no dia 19 de Julho de 1933. Ao escolher Lorca estou, sem ingenuidade, a colocar-me de um dos lados do conflito. Mas, porque a História não pode tolerar a parcialidade dos pontos de vista, porei termo a essa sequência no dia 17 porque no dia 18 fará 70 anos que teve início a guerra civil de Espanha. Imunda, cruel, tenebrosa!

Lorca era um peta que escrevia assim:

E Depois

Os labirintos
que cria o tempo
se desvanecem

(Só fica
o deserto.)

O coração
fonte do desejo
se desvanece.

(Só fica
o deserto.)

A ilusão da aurora
e dos beijos
se desvanece

Só fica
o deserto.
Um ondulado deserto.


(Francisco Fanhais musicou e interpretou este poema com uma qualidade enorme e uma sensibilidade arrepiante.)

Ao saber da sua morte o, então jovem, poeta José Gomes Ferreira dedicou-lhe este poema:

Terra:
endurece mais!

Recusa a abrir-te em cova
para esconder o Poeta
no silêncio das raízes.

Deixa-o apodrecer no chão
como uma bandeira de carne de remorsos.

2 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Para mim, a força genuína e truculenta do poema do jovem José Gomes Ferreira é incomparavelmente superior à de um Lorca traduzido e menos inconformado.
Prefiro a enxada de Ferreira à pena de Lorca.
Opiniões!
Mas ambos são grandes poetas, que não contam "petas"(vide "Lorca era um peta que escrevia assim")
Mauzinho sou eu !

MPS disse...

Inteiramente de acordo, mas Lorca fez-se símbolo, por isso está aqui. Prefiro o Lorca autor de teatro.

Mauzinho em quê?