26/07/2006

André le Chapelin: palavras sábias


Il est évident et pour ma raison absolument clair que les hommes ne sont rien, qu'ils sont incapables de boire à la source du bien s'ils ne sont pas mus par les femmes. Toutefois, les femmes étant l'origine et la cause de tout bien, et Dieu leur ayant donné une si grande prérogative, il faut qu'elles se montrent telles que la vertu de ceux qui font le bien incite les autres à en faire autant; si leur lumière néclaire personne, elle sera comme la bougie dans les ténèbres, qui ne chasse ni n'attire personne. Ainsi, il est manifeste que chacun doit s'efforcer de servir les dames afin qu'il puisse être illuminé de leur grace; et elles doivent faire leur mieux por conserver les coeurs des bons dans les bonnes actions et honorer les bons pour leur mérite.

ANDRÉ LE CHAPELIN, Traité de l'amour (citado em: R. BEZZOLA, Les Origines et la Formation de la Littérature Courtoise en Occident)

Se as mulheres são a origem e a causa de todo o bem, faz sentido que, na guerra, elas sejam deixadas para trás. Foi preciso que um autor do séc. XII me explicasse isso. As mulheres, deixadas para trás, não podem iluminar ninguém! Que caminhos medonhos temos trilhado! E há quem continue a dizer que a Idade Média foi o tempo de trevas!

8 comentários:

MeMyself&I disse...

Estás a aproveitar a deixa de Chapelin! Sem sequer questionar o papel da Mulher ao longo dos séculos (porque isso daria pano para mangas), a Idade Média foi de facto negra. Mas fazemos tréguas, eu aceito que tenha sido uam "noite" de quarto crescente!

Menos que isso é que não!

Abraço

Ps. não tens de agradecer os contributos, os contribuidores é que têm de agradecer o espaço de reflexão ;)

MPS disse...

Sabes, Miguel, confunde-me muito que se diga que foram de trevas os mil anos em que a mulher foi livre e em que a escravatura era proibida. Os únicos mil anos da História em que isso aconteceu! Olha bem à tua volta!

Conversar contigo é sempre um prazer, mesmo que discordemos frequentemente.
Um abraço

MeMyself&I disse...

Agora vou ser "mesquinho", semânticamente falando: depende do conceito de liberdade e de escravatura!

Que liberdade adicional detinha a mulher? Era livre de manifestar a sua opinião? Podia assumir um papel tradicionalmente masculino sem que houvesse qualquer tipo de represálias sociais?

Quanto à escravatura, estás a ser benevolente com os senhores feudais, ou o Feudalismo não era uma forma de escravatura? Bem, eu sei que me dirás que não mas que roça os limites da escravatura, ai isso roça.

O prazer é todo meu. O facto de discordarmos frequentemente só torna as conversas mais agradáveis, sendo que no final acabamos sempre por chegar a algum género de, talvez não concórdia, mas, certamente algum entendimento mútuo.

MPS disse...

Manifestar desacordo não é mesquinhez, é direito de opinião.

Eu não sei o que entendes por liberdade adicional, mas a única actividade masculina vedada às mulheres era a guerra. E mesmo assim, pensa em Joana d'Arc (coloca-a nos dias de hoje e diz-me se alguma vez uma camponesa poderia chegar à fala com o rei do seu país e, chegando, se alguém lhe daria ouvidos, quanto mais a chefia de um exército!).

O que te posso dizer é que, à mulher como ao homem, era pedida a expresão do assentimento para que o padre pudesse realizar o casamento.

Em meios instruídos ela era instruída; nas cortes régias ou dos senhores da nobreza e, obviamente, no clero. Sabes que a cristianização da Alemanha se ficou a dever, essencialmente, a monjas?

Houve centenas de mulheres copistas, freiras e leigas. Agora, acho que te vou dar uma novidade: sabes que foi uma mulher, Dhouda, a autora do primeiro manual sobre educação das crianças? Chamou-lhe "Manual para o meu filho" e escreveu-o quando o seu filho mais velho foi chamado à corte de Luís, o Bom (filho de Carlos Magno), ou seja, em meados do séc. IX! Sabias que havia mosteiros duplos (não mistos: havia a igreja a separar os espaços de cada sexo)? No séc. XII, por vontade do seu fundador, Robert d'Abrissel, foi fundado um mosteiro duplo (sem que isso fosse um escândalo!)e, por sua vontade também, a pessoa que deveria dirigir o convento - homens e mulheres- devia ser uma viúva! A primeira abadessa foi Petronilla de Chemillé.

Se o que escrevi não basta, pensa comigo: em tempos de guerra, com o homem tantas vezes ausente, não teria a mulher que assumir todo o trabalho administrativo do domínio? Então, não poderia ser considerada incapaz!

Mas deixa-me acrescentar outra coisa: já reparaste como, a partir da Idade Média, há tantas mulheres na Europa? Isso tem uma razão: acabou a noção do "pater familia" que atribuía ao homem a decisão de vida ou de morte sobre os filhos, em qualquer idade. O pater romano exercia, à nascença, sobre quase todoas as filhas, a decisão de morte!

Quanto à escravatura: servidão não é escravatura! Um escravo não pode constituir família, não tem liberdade de circulação, pode ser comprado e vendido, a sua vida pertence ao dono. Nada disso se aplica ao servo. A servidão, naqueles tempos, era uma garantia! Garantia de que não ficava sem o seu direito à sobrevivência, ou seja, ele não podia ser expulso da terra, e transmitia esse direito aos filhos. Aliás, a terra não era vista como posse, antes como direito de usufruto, e isso valia tanto para os senhores como os camponeses! Para fazer uma comparação: é como se, nos nossos dias, uma empresa fosse transaccionada mas os novos donos não pudessem despedir os funcionários. É justo que assim seja, parece-me.

Por detrás de tudo isto está o Cristianismo cuja base essencial é a da dignidade humana e a da igualdade de todos, porque todos os Homens são filhos de Deus.

A este respeito aconselho, vivamente, a leitura de um livrinho: "Pour en finir avec le Moyen Age", de Régine Pernoud.

Jorge P. Guedes disse...

Pois, eu bem digo que a Idade Média foi uma época de enriquecimento humano e cultural mas pouca gente acredita!
Perguntemos a uma flausina do nosso tempo se gostaria de ter vivido na Idade Média, sem "desramelantes" para os olhos e sem um telemóvel.
Vejamos o que nos responde!

MPS disse...

O pensamento geral sobre a Idade Média prova aquela tese, segundo a qual, uma mentira mil vezes repetida torna-se verdade certa. Anda-se a falar mal da Idade Média há 500 anos! Os historiadores bem podem negar, gritar, demonstrar... que (quase) ninguém acredita neles.Também ninguém os lê, mas isso é outro assunto. Isto é engraçado porque na Idade Média, havendo poucos livros, eles eram copiados, emprestados, lidos em família, em grupos de amigos, etc. Nos dias de hoje, em que os livros se contam por milhões ao ano, ninguém os lê, ou lê o que não presta. São as ironias da História!

MeMyself&I disse...

Bem, no magnífico "post" (modéstia à parte) que se me desapareceu (raios partam o blogger) afirmava que admito estar formatado para "negar" a idade Média. Confesso!

Mas, (lá estou eu, adversativo como sempre) ainda não consigo perceber como pode ser considerada "época de enriquecimento humano e cultural". No máximo houve uma tentativa de não perder o que havia sido feita na Antiguidade Clássica.

Também havia dito no meu defunto post que o Cristianismo teve o seu papel no enriquecimento do Clero e no seu papel de destaque social. Isto, claro está, relacionando com o que a nossa cara MPS afirmou: "Por detrás de tudo isto está o Cristianismo cuja base essencial é a da dignidade humana e a da igualdade de todos" - é claro que mesmo para o Cristianismo, uns são mais iguais que outros!

Abraço

MPS disse...

És um humorista e eu não sabia!