04/01/2007

O Presépio da Madre de Deus

Por decreto do Mata Frades, em 1834 foram extintas as ordens religiosas: as dos homens imediatamente; as das mulheres proibidas de admitir novos membros para que, falecida a última, os conventos desaparecessem um por um. Foi nessa data que se desmontou o presépio, em terracota, da Madre de Deus que era um convento de clarissas. Em 1872, após a morte da última monja, o presépio reverteu para o Estado e seria integrado no espólio do Museu Nacional de Arte Antiga. Só neste Natal voltou a ser exposto, de novo no seu lugar de origem.




O presépio foi restaurado (obra de mecenato) e do todo original só se perdeu o burrinho. A vaquinha, por não ter par, ficou de fora da exposição. Notam-se, aqui e ali, umas lascas nas figuras, uma cabeça decepada, etc. mas o conjunto, é esplendoroso.



É o mais belo presépio que já vi! Da autoria conjunta de Dionísio e António Ferreira, terá sido produzido entre 1700 e 1730. As figuras principais e maiores devem ter uma altura média de 70 cm e, porque colocadas sobre um pedestal, ficam da altura do observador que se coloque de joelhos, integrando-se no cortejo daqueles que querem adorar o Menino. A cena torna-se mais vívida porque participada.




É pena que não haja bela sem senão – senão que se alarga a todo o convento: a iluminação incomoda os olhos do visitante e, no caso do presépio, reflecte-se no vidro e não deixa ver bem o conjunto. Talvez mais grave, na tabuleta que identifica a obra escreve-se que é um dos presépios europeios (sic)!

2 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

"Presépios europeios", com franqueza!
São estes pormenores que deixam antever o pouco cuidado como se encaram as coisas da cultura em Portugal.
E é de lamentar que se coloque uma nota de ridículo numa acção que, segundo o teu relato, só é de enaltecer e cumprimentar os responsáveis.
Que não se tome a nuvem por Juno, nas que esta é negra e feia...é!

Um grande abraço.

MPS disse...

Tens toda a razão: é, de facto, um trabalho de enaltecer os responsáveis que, certamente, não viram a placa.

Tens inteira razão, ainda, quando lembras que se não deve tomar a nuvem por Juno. Eu, tão susceptível nos assuntos da Língua Portuguesa, registei o caso, mas o deslumbramento que me provocou a observação do presépio foi tão grande que me fez esquecer a irritação da silabada.

Se puderes vai ver!

Um abraço