08/01/2007

Rosas de Jericó

Chega uma altura em que o chão a que se agarram já não é capaz de as alimentar. Então, em dia que só elas conhecem, retraem as raízes e desprendem-se do solo. Depois deixam-se murchar para, leves e secas, serem levadas pelo vento. São as rosas de Jericó.



Enquanto a rosa de Jericó aceita o colo do vento tem o aspecto das coisas sem vida. Parece um novelo quebradiço; um resto de lixo que alguém esqueceu.


A viagem pode demorar muito tempo, com paragens marcadas pelo descanso da aragem. A certa altura, porém, a rosa decide que é ali, naquele sítio, que quer ficar. Os nossos olhos, pouco habituados a distinguir os matizes do deserto, não vêem a diferença entre esse lugar e o outro que foi abandonado. Mas ela sabe que ali subsiste uma gota de água, disfarçada entre os grãos de areia. Então, as raízes descem de novo às entranhas da terra e aquela gota de água vai permitir que a rosa reverdeça, ganhe viço e beleza.

Percebemos, assim, que o deserto faz sentido!

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As rosas de Jericó, como o nome indica, são naturais do Médio Oriente e terão sido introduzidas na Europa pelos cruzados. Não é difícil entender que esses homens, tantos deles boçais e todos guerreiros de coração endurecido pelos combates, viram nelas a imagem perfeita da ressurreição.


Para o Jorge e para a sua família, com um abraço!


Recolhi daqui as fotografias que ilustram o post.

6 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Muito bonita esta história das rosas de jericó!

Um abraço da família.

Anónimo disse...

Pouco ou nada sei sobre plantas e flores, e confesso a minha ignorância para além das noções mínimas. De rosas sei apenas a sua representação heráldica (cinco pétalas e cinco pontas nos intervalos das pétalas, e ao centro um olho ou botão). E claro, a água-de-rosas e o mel-rosado da farmacopeia; as rosas-pálidas da perfumaria; a famosa Guerra das Rosas, as guerras civis em Inglaterra entre as casas de Lancaster e York. E pronto, esgotei o roseiral. Nesta cálida madrugada, apreciei, por isso, o texto sobre a rosa-de-jericó, para mim um “milagre das rosas”.

MPS disse...

Obrigada, Jorge.

Um forte abraço

Anónimo disse...

Jofre:

conhece também, certamente, a "Rosa Púrpura do Cairo", esse filme magnífico de Woody Allen! E já são muitas rosas no canteiro do seu jardim!

Um abraço

soreg disse...

gostei de ler, bela prosa poética!

Destaco:

"Chega uma altura em que o chão a que se agarram já não é capaz de as alimentar.
Então, em dia que só elas conhecem, retraem as raízes e desprendem-se do solo. "


"Mas ela sabe que ali subsiste uma gota de água, disfarçada entre os grãos de areia.
Então, as raízes descem de novo às entranhas da terra e aquela gota de água vai permitir que a rosa reverdeça, ganhe viço e beleza.

Percebemos, assim, que o deserto faz sentido!"


um abraço amigo,

sonia

MPS disse...

Sónia

Que palavras tão gentis, mormente vindas do lugar para onde espreito quando o sol se põe!

Um abraço