23/01/2008

A morte

Há muito tempo que não lia nada tão belo. Integro-o, por isso, em antologia pessoalíssima.

Não há mortes naturais. Todas as mortes são injustas como uma culpa infundada, e inúteis como uma heresia. Mas a morte de um bebé é a mais injusta de todas as mortes. Um bebé que morre não é, apenas, um projecto desfeito, um milagre anulado, um doce peso que se transportou nos braços, uma promessa incumprida e um desejo irrealizado. Um bebé que morre, e que morre assim, é uma acusação lívida, um dedo apontado, uma censura muda, porém terrível.

Baptista Bastos, "Os Jogos dos Acasos" in DN de 23 de Janeiro de 2008

16 comentários:

Bloga Comigo disse...

Queres blogar comigo? Eu quero blogar contigo.

Bjos

Anónimo disse...

Augusto Gil
Mas, as crianças senhor, que mal fizeram, as crianças!
Com um respeitoso abraço para si MPS
josé manangão

MPS disse...

É verdade, José Manangão, lembro-me bem do Augusto Gil e do seu poema da neve... Que mal fizeram elas?

Um abraço

Bloga Comigo disse...

" Todas as mortes são injustas como uma culpa infundada..."

Talvez já tenhas lido o livro de hoje.
Bloga comigo.
Bjos

Isamar disse...

Um bebé que morre assim é um dedo apontado a todos nós. Um acontecimento trágico, lamentável, indesculpável.

Beijinhos

Anónimo disse...

E nós vamos deixando que as coisas aconteçam, mas como podemos evitar? Achamos mal, refilamos ficamos até doentes com estes casos e eles continuam a aparecer. Até quando meu Deus??????
Passei e desejo um optimo fim de semana.

Porca da Vila disse...

Dói na alma. Que não na de uns tantos, para quem a pessoa humana não passa de meia dúzia de algarismos...

Xi Grande

Chanesco disse...

Cara MPS

A morte é como os predadores. Quando ataca, leva sempre os mais susceptíveis de terem sido ecolhidos pela providência do destino.

Abraço Raiano

MPS disse...

Bloga comigo

Essa frase e aquela que fala do peso doce que se carrega nos braços foram o motivo que me levaram a considerar este como um dos mais belos textos que li ultimamente.

Quando tiver tempo irei ver de que livro fala. Até lá

MPS disse...

Cara Sophiamar

Não é que as crianças não morram também, mas morrer no contexto que algumas populações estão a sofrer é que me parece horrendo, pela insensibilidade que mostra quem pode decidir.

Um abraço

MPS disse...

Caro Tibeu

Muito obrigada pela sua visita.

O que podemos fazer? Neste momento decidi que deixaram de me importar pruridos de esquerda ou de direita: no nosso país, ao contrário dos restantes, foi a esquerda que matou as ideologias. Então, a esquerda de poder que sofra as consequências, deixando de contar com o meu voto. Espero que os valores da solidariedade para com os abandonados pese no momento de votar. Sim, porque esses só são abandonados à sua sorte porque pesam pouco nos cadernos eleitorais.

Eu já decidi. Espero que muitos outros o façam.

Um abraço

MPS disse...

Caríssima PV

Para que lhes doesse era preciso que a tivessem!

Mas têm estômago. Um estômago tão grande que se lhes não revolta com aquilo que vêem em consequência daquilo que fazem!

Forte abraço

MPS disse...

Caro Chanesco

O destino é o imponderável, aquilo a que não podemos atalhar, vindo da natureza ou de Deus, conforme as crenças. Neste caso o destino tem nome. Nomes!

Um abraço

Bloga Comigo disse...

Hoje, António Gedeão, Rómulo, fundador de Roma, Vasco da Gama, o Navegador, a física, a química e sempre o amor.

Bjos

Anónimo disse...

É sempre com muito interesse que leio o que por aqui se escreve, principalmente a autora deste blogue. Mas hoje "A morte" bateu-me muito forte.

Obrigada

MPS disse...

anónimo/a

Obrigada pela gentileza.
Espero, no entanto, que o tema deste artigo o/a não tenha tocado por motivos pessoais.

Volte sempre.