20/10/2007

O Lírio





Ela convenceu-se que aquele lírio ocupava, em sua casa, o lugar das avencas na casa da mãe.

Em casa de D. Teresa as plantas dos vasos eram sempre belas e fartas. Mesmo as mais delicadas medravam num viço de espantar. Mas as avencas não! Ela abrigava-as; mudava-lhes a terra; plantava novos rebentos – mas qual quê! As coitadas iam mirrando e amarelecendo até que, por fim, morriam. Em toda a vida, nunca a D. Teresa conseguiria a vitória de um belo vaso de avenca a enfeitar-lhe um lugar da casa.

Com ela e com o lírio estava a acontecer o mesmo. Até gostava pouco de lírios, mas aquele era especial e nem sabia dizer porquê. Ao longo de mais de vinte anos viu-se a repetir os gestos da mãe: mudava o vaso e a terra; escolhia lugares novos. E nada! Nem uma flor a dar graça àquelas tiras compridas e verdes que são as folhas dos lírios. Em contrapartida, o vaso da avenca, embora apenas um, era o maior da sua casa e um regalo para a vista.

D. Teresa faleceu num dia de Primavera prestes a chegar. Nesse Verão, o lírio do vaso da filha floriu em abundâncias de espanto. Em todos os outros vasos nasceram-lhe raminhos frescos de avenca.

4 comentários:

Anónimo disse...

Realidade? Ficção? Não sei... fico a pensar que ambas, e que isto aconteceu de verdade... e que afinal é bem capaz de haver vida para além da morte, seja sob que forma for...

Um Xi Grande

MPS disse...

Cara PV

Há coisas que nos dão que pensar, sabendo que ajuizamos os acontecimentos à luz do que temos dentro de nós.

Um abraço

Anónimo disse...

Há 'novidades' na Reserva!

Bom fim-de-semana.

Um Xi Grande

MPS disse...

Caríssima P.V.

Não poderia ter-me dado honra maior.

Um abraço