18/08/2006

Luar de Agosto

"Luar de Agosto dá-lhe no rosto".

As palavras são poesia pura e, também, portadoras da verdade do trabalho de Verão: prolonga-se noite dentro.

No mundo rural o trabalho é intenso e, até há poucos anos, pago à jorna ou justado por inteiro a camaradas de segadores vindos da terra quente transmontana. Era, pois, necessário que o dia se prolongasse para além do sol posto e a Lua, que não torrava os corpos, servia de luzeiro certo naquele céu sem fim.


As espigas nascidas nas bordas das terras são aí deixadas, em forma de agradecimento, digo eu, ou em pagamento de primícias ou, talvez, para alimentar as aves, também elas criaturas de Deus, e sou eu que continuo a dizer.

Enquanto segavam, os segadores cantavam, que era a forma de se animarem mutuamente e de marcarem o ritmo do trabalho. Cantar enquanto se está dobrado exige muito esforço e, por isso, os que não cantavam eram brindados desta forma no arremata da cantiga:


A cantiga está cantada,
bem haja quem a cantou
fui ou e o mou camarada
foi ele quem me ajudou!

E o compadre Epamilongas
tem ua burra amarela
quem não ajudou à cantiga
há-de lebar o que a burra leba (lubar)
(Ai leba leba, o que a burra leba em Maio!)

Já nada disto se canta, a não ser na saudade dos mais velhos!

Este ano o luar de Agosto pôs-se assim, tão belo, que me fez subir à serra para melhor o ver. E até perdoei ao, ainda grande, quarto minguante, que tornasse menos espampanante a chuva de estrelas que por essas noites caiu.






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