25/11/2008

Ironia às escâncaras

Imagem retirada daqui.

Investido em Presidente do Conselho, Salazar ter-se-á rido com este pedido , digamos assim, escrito em Português Técnico, dirigido ao ministro da agricultura:


- E X P O S I Ç Ã O -

Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.

Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!

O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!

A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?...
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.

Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n'elas.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!

Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!

Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.

Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo
Évora, 13 de Fevereiro de 1934

O Presidente
D. Tancredo (O Lavrador)
Texto gentilmente enviado pelo meu amigo António Fernandes

9 comentários:

Boieiro disse...

Buonas tardes

Al fin de l die, benir eiqui i botar ua buona risada anté fai calcer la alma no meio de tanto Eimbierno.
Él hai cousas que nun ténen tiempo: buosta será siempre buosta nien que se deia solo rosmanino a las béstias.

Abraços

Meg disse...

Cara MPS,
Pois também eu dei umas boas risadas, enquanto lia este tão
premente pedido. Não sei o que terá pensado o Ministro da Agricultura, mas se deu provimento ao pedido, nem quero imaginar...o resultado.

Um abraço

MPS disse...

Caro Boieiro

E, claro, o mirandês acrescentou graça ao riso!

Invernia? É Deus que a manda. Como se diz lá pela minha terra, é o melhor remédio contra a bichagoura. Se viesse neve, então...

Um abraço e obrigada pela visita

MPS disse...

Cara Meg

O Alentejo foi, a seguir à guerra, estimulado a transformar-se no celeiro de Portugal...

Um abraço

Isamar disse...

Cara MPS
Hoje, a terra está abandonada.A quem se deve tal abandono? À falta de merda não é que, sabemos, até sobeja.
E tanto havia que fazer em prol da agricultura! E de muito mais.

Um abraço

Bem-haja!

p.s fartei-me de rir com esta ironia às escâncaras.

MPS disse...

Cara Isabel

A merda que há de sobejo é pior que os adubos químicos: queima em vez de estrumar.

Um abraço

Anónimo disse...

Andaba you purqui a ber se achaba nubidades de la mie tierra que se chama Speciosa ua aldê de Miranda d l Douro e dou com isto que iá me fizo rir e yá me stán a doler las tripas cun tanta merda.
Bou-me antón alhá e que Dius bos pague por estas cousas tan bien cheirosas e angraçadas.

Anónimo disse...

Oulhai you ajudaba bos no Brègancés mas inda nun bi como Yé para bos dar uas palabricas de la mie Speciosa. Alhá hai muitas mi angraçadas.

MPS disse...

Anónimo

Adelaide Alves

São a mesma pessoa, suponho.

Mais uma visita mirandesa é um regalo para a alma. Especiosa? Um dia hei-de lá ir, nem que seja só para confirmar que é terra especial, mesmo!

ajudas no Brègancês serão todas estimadas e agradecidas. Fui eu que lhe pus o nome, com raiva de ver o nosso modo de falar tão esquecido - e com tanta influência mirandesa!

Cara conterrânea (porque os transmontanos somos todos da mesma terra), um abraço e muito obrigada.