05/07/2006

A propósito ...


Muito se tem falado da Senhora de Fátima. Até a mim me parecia mal não falar do assunto, mas como sou incapaz de ligar a divindade ao futebol, apresento outra perspectiva do tema.


Todos conhecemos a imagem que lhe conferiu o ar seráfico dos seres que nunca pisaram a Terra. A escolha da imagem, tanto quanto sei, fez-se entre duas alternativas, sendo preterida a de Teixeira Lopes. Tenho pena porque, baseado na mesma descrição feita pelos videntes, o escultor Teixeira Lopes apresentou uma escultura de pessoa viva, longe de estereotipos serôdios acerca do que é a santidade. O seio evidenciado; a perna que sobressai, moldada pelo manto fino; os braços com carne, tudo isto apela à ideia de Maria que foi mulher. No rosto está estampada a dor verdadeira, a dor que as pessoas são capazes de sentir. Esta imagem aproxima Nossa Senhora dos homens, porque recorda a humanidade da mãe de Jesus.

3 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Também prefiro claramente a escultura de T.Lopes.
E pergunto-me se não terá sido excluída exactamente porque mostrava "carne pecadora".

Quem tomou a decisão?

MPS disse...

Não sei quem terá integrado o "júri", se é que houve júri, mas presumo que foram as hierarquias religiosas, pois só a elas tal assunto dizia respeito. Isso não exclui a hipótese de ter havido aconselhamento com membros leigos da comunidade católica.

Estávamos em 1920, tempos conturbados para Portugal e de perseguição às instituições religiosas (e aos membros do clero)movida pela República. É neste contexto que se faz a escolha da imagem de N.ª Senhora de Fátima. Acredito, como dizes, que se queira afastar de Maria a ideia de que teve um corpo ('pecador', como sublinhas) e essa tendência seria reforçada pela situação vivida: só a intervenção do céu, através de Maria, rainha do céu e rainha de Portugal, pode salvar a nossa Pátria de quem o quer desapossar daquilo que tem de mais profundo: a fé.

É fácil para nós, em 2006, preferirmos Teixeira Lopes, mas em termos artísticos os anos 20 são anos em que as novas tendências da arte são olhadas com repugnância pela generalidade dos intelectuais, as obras modernistas são afastadas dos circuitos tradicionais de exposição por fugirem ao gosto canónico. Os homens da igreja são, também eles, fruto do seu tempo. Mas continuo a ter pena da escolha da imagem, embora tente compreender.

Claudia Thome Witte disse...

Onde está o modelo preterido de Teixeira Lopes hoje em dia?