06/07/2006

A Lição de Salazar (cont.)

Não sei o que se passou com o blogger que me não deixou introduzir todos os cartazes no artigo anterior. Aqui ficam os restantes.

É de salientar que o conteúdo dos cartazes, assumido como realizações do ditador é, ao tempo, totalmente falso. Em 1938 pouco mais estava feito do que o saneamento fianceiro do País, e olha lá!





Estes cartazes seriam, pois, uma espécie de programa que Salazar se propunha cumprir. A política de fomento das obras públicas é posterior; verdadeiro é o Estado corporativo que alcançou legitimidade com a Constituição de 1933.















Pouco depois, Salazar poderia acrescentar mais uma lição. Esta:






a lição da morte testemunhada pelo cadáver de Militão Ribeiro, morto por inanição, em 1950, no campo de concentração do Tarrafal.



NOTA: fiquei a saber hoje, dia 7 de Julho, que há um polaco que está firmemente convencido de que só doem as bordoadas dadas por mãos comunistas. Não sei se é senilidade, ignorância ou pura maldade, mas esse senhor, que é deputado ao Parlamento Europeu, teceu encómios a Salazar e a Franco. Sublinhe-se a elegância da atitude, tendo em conta que faz este ano 70 anos que se iniciou a sangrenta, malvada, pérfida... guerra civil de Espanha. Alguém que o leve a visitar a Guernica, por favor, e responda como Picasso respondeu aos nazis que lhe perguntaram:
_"Foi o senhor que fez isto?"
_"Não, foram os senhores!"

6 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Magnífico testemunho da hipocrisia e da mentira que subjugaram um povo com todo o direito à evolução.
E nem sequer a época dos factos os torna menos gravosos e aviltantes. Aqui não há lugar para atenuantes.

MPS disse...

E é preciso avivar a memória!

MeMyself&I disse...

Ainda hoje falamos sobre isso. É com profunda tristeza que tenho de reconhecer que a minha geração peca pela ignomínia ignorância da História, sobretudo da SUA História e da História de SEUS pais, muitos deles, como os meus, oprimidos pelo colete de forças da ditadura.

É triste...

Um abraço

MPS disse...

Quanto menos se falar, menos os cidadãos serão capazes de identificar os coletes de força que, invisíveis na aparência, são reais e vão manietando aos poucos.

Cumpre-nos a nós ir lembrando estas coisas, porque a tirania, quando chega, atinge a todos: os que a desejam e os que a sentem como opróbrio.

Um abraço, Miguel!

Mário Lima disse...

Foi a imagem de «Deus, Pátria e Família» que me chamou a atenção. Embora tivesse saído de Portugal muito novo lembro-me dela não sei de onde. Mais tarde como só isso não chegava passou a haver os três F, «Fátima, Futebol e Fado». Triste fado o nosso que haja ainda nos tempos actuais e no Parlamento Europeu alguém que defende o franquismo e o salazarismo, e diga que o papão era o comunismo pois como toda a gente sabe comiam crianças ao pequeno almoço. Foi pena o austríaco que levou uma nação à derrocada e há morte de milhões de pessoas não ter cuidado em ter nascido um bocadinho mais tarde e ter levado para os campos de exterminação não a Anne Frank mas unicamente esse deputado. Tudo de bom

MPS disse...

O povo, que gosta de mofar, dizia que era o país do "FuFáFá" (futebol, fado e Fátima. E só com mofa se poderiam levar os dias!


Não me referi, no post, à enorme qualidade artística e gráfica dos cartazes. Devia tê-lo feito e também devia ter sublinhado a eficácia da propaganda que assumiu as dimensões que conhecemos porque, de facto, respondia com exactidão absoluta aos objectivos pretendidos e não foram (nunca o foram para a propaganda) regateados meios para a levar a cabo. Em nenhum outro tempo os professores, sobretudo os do ensino primário, foram tão utilizados como instrumentos utilíssimos dessa propaganda ao serviço da perpetuação e mistificação do regime. Espero, ainda, voltar a este assunto, a propósito de alguns textos dos livros de leitura.

Quanto ao senhor austríaco... provavelmente, se ele o não fosse, declararia ariano o deputado polaco. Não se esqueça que, nas suas palavras cobardes, "é judeu quem eu disser!"

Um abraço