O ritmo da representação teatral evidenciava a descarga nervosa do exame terminado havia poucas horas. As personagens sucediam-se umas às outras; as entradas em cena, velozes, poupavam à protagonista o esforço do improviso, tão necessário ao entretenimento do público, enquanto o actor se prepara para o desempenho de mais uma personagem. Representava-se o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, auto que fora estudado e amado, como o provava a adesão de toda a turma ao projecto, desenvolvido e levado a cabo com poucas ajudas.
Nunca um frade me pareceu tão cómico, nunca a sua amante, um travesti apimentado, me fez rir tanto! Nos bastidores, enquanto assegurava a entrada ordenada das personagens, ia respondendo com um sim, sincero e entusiasmado, à pergunta: "estive bem?"
O pano fechou-se e voltou a abrir-se, porque havia mais um julgamento, imprevisto para todos menos para os actores. O diabo desfiou o rosário dos pecados do morto, destacando o principal:
Ensinou-me, vejam bem, o que é essa coisa horrenda da democracia!
O resto não importa. Quanto a mim, reforcei a convicção de que, enquanto formos capazes de ensinar aos jovens o que é a democracia, a velhacaria sairá derrotada. Bem-hajam eles!Muitos há que se esforçam por alcançar outras coisas, mas o seu esforço é em vão.
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2 comentários:
O melhor no Ensino ainda são os miúdos e alguns professores carolas.
Digo isto há cerca de 10 anos!
Ainda e sempre!
Só há dez anos, Jorge? Eu já prego há mais de vinte! O que esse tempo me (nos) ensina é a reconhecer a veracidade de certas máximas como aquela que diz que 'os cães ladram mas a caravana passa!' O tempo ... e a lista de ministros da educação que tiveste o cuidado e o trabalho de coligir!
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