10/05/2017
PORQUE OS HOMENS SE NOS VÃO
01/05/2013
05/10/2012
CRUEL METÁFORA
22/05/2011
SHARIA
07/05/2011
15/04/2011
O NOVO MANUELINHO DE ÉVORA
ARTIGO 178º
Compete à Assembleia da República elaborar e aprovar o seu regimento, nos termos da Constituição, eleger o seu Presidente e os demais membros da Mesa (...)
Com algumas alterações, texto da revisão constitucional de 2005 determina o seguinte:
Artigo 175.º
Compete à Assembleia da República:
a) Elaborar e aprovar o seu Regimento, nos termos da Constituição;
Ou seja, na essência nada mudou: compete à Assembleia da República eleger o seu Presidente!
02/04/2011
QUARESMA, VIEIRA E POLÍTICOS
16/04/2010
31/12/2009
A SARAMAGO COMO SE DISSESSE CRIME
Aquando do lançamento de Caim gerou-se uma polémica enorme, não em torno da obra (pelos vistos, ninguém a lera), mas em torno das declarações que o autor teceu sobre a Bíblia, apodando-a de “manual de maus costumes”. Dei pouca importância à contenda porque me convenci de que o Saramago da Caminho, já velho e frágil, se deixara enlear pelas manobras publicitárias da capitalista Leya. Erro meu. Saramago não se deixou enlear, ao contrário, pragmaticamente, serviu-se da capacidade publicitária da editora para que muitos mais quisessem ler o seu livro, tornando a mensagem mais eficaz.
Li toda a obra do autor e reconheço-lhe a rara capacidade de ter escrito duas obras-primas que são o Memorial do Convento e o Ensaio sobre a Cegueira e uma quase obra-prima, o Todos os Nomes. Desculpei-lhe os actos falhados de O Homem Duplicado e de A Caverna, enterneci-me com o Evangelho Segundo Jesus Cristo e com O Ano da Morte de Ricardo Reis e agradeci-lhe o tanto que me ensinou sobre a vida do camponês alentejano no Levantado do Chão.
Agora li Caim, nome de uma personagem Bíblica que Saramago aproveita e a quem, na sua liberdade criativa, inventa uma biografia, levando-o a passear-se por episódios do Génesis e do Êxodo. Identificando-se com o protagonista, Saramago faz de Caim o agente concretizador da sua utopia. Caim é Saramago e Saramago é a descrença.
As utopias são filhas do tempo, deixando-o transparecer mas, no fundo, trazem com elas a crença de que o ser humano é capaz de construir um futuro que seja perfeito. Onde encaixa, então, o pessimista Saramago na ideia de utopia? Encaixa perfeitamente, se aceitarmos que existem utopias negras, aquelas que pressupõem o extermínio de tudo quanto possa contribuir para a sua não concretização, que vociferam contra a violência quando é praticada pelos outros, mas instigam à sua prática se for para atingir os objectivos que almejam. Existem utopias destas e a de Saramago nem sequer tem o mérito de ser a primeira!
No Memorial do Convento associei-me a Saramago no nojo contra os autos-de-fé e a profunda hipocrisia do braço condenador. Em Caim percebi que Saramago não é contra os autos-de-fé, que não chora a morte pelo desperdício da vida – de qualquer vida – ele apenas se irrita por não ser a sua, a mão do carrasco e o seu motivo, o motivo da condenação. As vítimas seriam as mesmas e muitas mais!
A obra é um manifesto anti-semita na versão de anti-judaísmo e, não vá algum leitor deixar escapar a filosofia, o autor semeia juízos desses por toda a parte, nem sequer falhando a associação de episódios bíblicos com a leitura que faz da actual situação do país que é Israel.
Saramago, porém, não se satisfaz com o sangue dos judeus. A ele, só o sangue de todos os crentes o saciará e nisso se consubstancia a sua utopia. Antes de passar a ela, devo referir a ideia de mulher que o autor deixa transparecer: lascívia, nada mais que lascívia. De nenhuma das mulheres referidas sai uma ideia, uma palavra que marque; apenas a volúpia da sua entrega consciente ao corpo de Caim, para já não falar de Eva que se serviu da fraqueza da carne do querubim, guardião do jardim do Éden, para conseguir iludir o castigo de Deus e obter alimentos (e da repugnância que é a sugestão de que a espada de fogo do querubim é, afinal, o seu falo).
Como já disse, Saramago põe Caim a percorrer alguns episódios dos dois primeiros livros da Bíblia. Logo no início, Caim mata Abel porque não pode matar a Deus; mais adiante, será Caim a segurar o braço de Abraão quando este se preparava para sacrificar Isaac e o mesmo Caim instila o germe da descrença no patriarca, ao dizer-lhe que Deus foi cruel por não ter poupado os habitantes puros de Sodoma: as crianças! Sodomitas com filhos! Saramago tem de explicar o prodígio! À medida que Caim percorre os episódios bíblicos vai-se convencendo da suprema maldade de Deus e, quando chega à narrativa da construção da Arca da Aliança por Noé, toma uma decisão: se não pode matar Deus, matará todos os crentes, os únicos que Deus salvara do dilúvio. É por suas mãos que mata cada um dos filhos de Noé; é por suas mãos que mata cada uma das noras de Noé com quem se deitara e que estavam grávidas de si, tão grávidas como a mulher de Noé que também quis dormir com este Caim inventado por Saramago e este Caim-Saramago, que não cessa de chorar os filhos improváveis dos sodomitas, não hesita em matar as crianças que ainda não nasceram porque cometeram o supremo crime de terem sido geradas no ventre de gente obediente a Deus. Caim-Saramago só não mata Noé porque quer que seja ele o instrumento da sua vitória definitiva sobre Deus, obrigando-o ao suicídio.
Saramago salva Caim e, presume-se, será este assassino o primeiro habitante da sua utopia. Quem leu a obra, há-de entender a razão de ser do título que dei a este artigo.
Na classificação pessoalíssima que faço dos livros, merecidamente, arrumarei Caim ao lado do Mein Kampf. Não citei passagens de Caim pelo mesmo motivo que, a não ser no estrito cumprimento do dever profissional, me recuso a citar Hitler.
Eu era indefectível de Saramago!
01/12/2009
1640 e mais Fialho
Volvidos 369 anos sobre a manhã refundadora da liberdade pátria em 1640 (outras existiram!)que povo somos nós? Seguidores acríticos da propaganda republicana que repetimos como papagaios, sem lhe conhecer a origem, atiramos mancheias de lama sobre 270 anos de História, o tempo da IV dinastia. À História de Portugal exigimos que cumpra a impossibilidade de se manter eternamente no apogeu, enquanto todos aceitamos a inevitabilidade da queda dos impérios, em sinal do devir histórico. E que fazemos por nós, para não soçobrarmos de todo? Em vez de delinearmos o futuro, atiramo-nos como cães raivosos a quem nos não dá a vida de lordes a que julgamos ter direito. Lá está: "a quem nos não dá", como se não fosse obrigação de cada um suar para conseguir o próprio sustento. Acusamos a Pátria da quimera sebastianista e não reconhecemos nesse "não nos dá" o nosso contributo pessoal para a alimentar. Acusamos todo o mundo, menos a nós.
É muito interessante este trecho do Fialho:
E o que mais confrange é esta abdicação, no Estado como no indivíduo, ser feita de indolência estúpida, de desgoverno insólito, de falta de brio cívico. Não nos cerceia a miséria filha dum estancamento completo de recursos; cerceia-nos o desleixo, derivante dum descaminho de força, e de uma aplicação viciada e de predilecções e faculdades. (...) O resultado é este:em cima, o País gozado por dez ou doze charlatães, de parceria com dez ou doze bandidos, o todo fazendo permutaç~oes d'infâmias e jigajogas de negociatas, que lhes permite aguentarem-se alguns meses mais no tombadilho; em baixo a massa avulsa, morrinhenta, sórdida, sem força, desiludida de tudo, irrespeitosa de tudo, insultando-se como os cães, vendo passar as afrontas indiferente, e deixando-se cair alfim no próprio vómito, onde a letargia a açovaca, té que uma chicotada nova a faça outra vez estrebuchar!
(...)De sorte que o salve-se quem puder não deve exprimir-se no momento actual, por este grito: «quem nos livra dos ingleses!» mas por este outro - quem nos livra de nós mesmos!
In: Os Gatos, 31 de Agosto de 1890
24/10/2009
Do Fialho de Almeida
***
A instrução ficará assim nas mãos dum pessoal abstruso e ignaro, descultivado e indiferente (...).
Este pessoal, jungido do do famoso conselho de instrução pública, a quem se deve o estado humilhador do ensino actual, exercerá, segundo já por aí se diz, sobre escolares e professores, uma espécie de magistratura de carácter hierático e inviolável, reservando-se o direito de legislar sobre o que não conhece, de reformar o que lhe fizer conta, de impor às escolas os castigos e os prémios, quer a discípulos, quer a mestres, com solércia e aplomb, iguais aos que o foro privado da Universidade deixa exercer aos lentes, mesmo fora da alçada académica, sobre a desprotegida carneirada de estudantes.
Eu não quero pensar o que será o corpo docente das nossas escolas, onde, apesar da decadência do ensino, ainda podem contar-se muitas cabeças de excepção, mandado pelo Sr. Arroio e pelos gros bonnets do seu Ministério, nem vejo bem por que caminhos mentais derive a mocidade portuguesa, seguindo planos de estudo onde haja parágrafos do conselheiro Amorim, corrigidos pelo Luciano Cordeiro e pelo Alberto Pimentel. Lamento só, com uma filosofia desabusada, que, mercê das poucas-vergonhas vistas, me proibiu de há muito a indignação, lamento só que nem as matérias da ciência, nem os profundos prolblemas da educação, escapem ao dilúvio do amanuense que atola tudo, e pergunto a mim mesmo, se não é aviltante, irremissivelmente aviltante, para certas corporações superiores, esta lotaria política que põe sábios e antigos servidores, encanecidos nas austeridades da honra e do trabalho, à mercê do primeiro rapazola que o sr. Serpa e o sr. José Luciano se lembram de fazer ministro, e dos bisbórrias que esse ministro escolha para estado-maior dos seus estardalhaços (...).
__________ //__________
Fialho tem, do Conselho de Instrução Pública do séc. XIX, a mesma visão crítica que eu tenho dos mestres saídos da escola de Boston que, tragicamente, lançaram ideias daninhas e práticas assassinas sobre o nosso sistema de ensino a partir dos anos 80 do séc. XX. São eles os agentes importadores do modelo americano das ciências da educação, designação que seria hilariante se a realidade que nos impuseram não fosse trágica. À estatística, ou a brandem como arma, ou jenuflectem perante ela como se ela fosse o credo da verdade e a medida de todas as coisas. A estatística é o dogma da religião que professam, a que chamam ciência. Os mestres de Boston, não satisfeitos por controlarem todo o processo da formação de professores, quiseram que as suas ideias tivessem forma de lei. Conseguiram-no, chegando ao Ministério da Educação na última legislatura. Por lá se mantêm, apesar de ser outra a ministra. Queira Deus que eu me engane como o (às vezes reaccionário) Fialho se enganou tantas vezes.
Das restantes acusações que Fialho faz, nem me apetece falar!
Faz sentido, ainda!
06/10/2009
Gracias a la vida
29/09/2009
Mafaldinha
29/06/2009
S. PAULO
El Greco, S. Paulo
não há escravo nem livre;
não há homem e mulher,
porque todos sois um só em Cristo.
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência e ainda que eu tenha toda a fé, de tal modo que remova montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e ainda que eu entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita. A caridade é paciente, bondosa é a caridade, não ferve de inveja, não se ostenta, não se orgulha, nada faz de inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo aguenta. A caridade jamais acaba. As profecias serão abolidas, as línguas cessarão e a ciência será abolida. Pois o nosso conhecimento é fragmentário e fragmentária é também a nossa profecia. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito será abolido. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança. Agora vemos como num espelho, de maneira enigmática; depois veremos face a face; agora conheço de modo fragmentário; depois reconhecerei como fui reconhecido. Agora permanecem a fé, a esperança, a caridade, estas três; mas a maior delas é a caridade.
(1Cor, 13)
25/04/2009
Abril
Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz
Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações
Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!
Poema de José Gomes Ferreira
Música de Fernando Lopes Graça (in Canções Heróicas)
17/04/2009
GERAÇÃO Y
What is Generation Y? Hmm, I've always wondered this myself. Now I know.
- The Silent generation, people born before 1946.
27/02/2009
A Crise
The Crisis of Credit Visualized from Jonathan Jarvis on Vimeo.
01/12/2008
Senhor Inverno
com sua chuva doce e benfazeja,
sua neve calma, bela e límpida
e seu frio útil e retemperador!
Seja muito bem-vindo, senhor Inverno, pela promessa do recomeço!
Fotografias gentilmente oferecidas por minha irmã A.M.
25/11/2008
Ironia às escâncaras
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?...
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n'elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Évora, 13 de Fevereiro de 1934
D. Tancredo (O Lavrador)