Este ano tem sido como primeiro parto em mulher madura: aos ouriços custa-lhes a abrirem-se e caem prenhes no chão. Cada castanha tem que ser desouriçada, rebolada pela ponta do pé e retirada pelos dedos fórcipes dos apanhadores. Custosamente, embora, o fundo da cesta vai-se enchendo de brilho doce e bom sabor.
Muitas castanhas estão, ainda, em leite, concebidas que foram fora de tempo - o pouco calor do Verão nem às árvores convidou ao devaneio!
O ritual da apanha da castanha exige tempo frio e a chuva agradece-se para que os pães se possam ir semeando. Este ano a tradição quebrou-se e, por sob os castanheiros, mulheres e homens envergavam vestes frescas de Verão. As terras de lavoura lá estão, lavradas, à espera que o céu as venha humedecer e as torne capazes de acolher a semente.
Enquanto nas cidades se discute a relevância do modo como se há-de obter energia eléctrica, nos campos reza-se para que nos devolvam as estações do ano já que, lá, nada existe sem a certeza da permanência.
2 comentários:
Pobres castanhas! O Verão este ano foi o que [não] se viu, e os castanheiros ficaram baralhados!
Um Xi Grande
Cara PV
Baralhados eles e tudo o resto: vi marias floridas; urzes e giestas com rebentos, mas aos roquelhos mal lhes pus a vista em cima. Comi uma carneira e um tartulho e dei-me por muito feliz!
E assim vamos, sem sabermos às quantas andamos.
Um abraço
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