Hoje é dia de S. Martinho, o monge bondoso que foi abençoado por Deus por ter oferecido a sua capa a quem, no Inverno, precisava dela.
Deus recompensa a bondade.
Por esta altura, nas terras da castanha, os donos dos castanheiros autorizam o "rebusco". O rebusco é uma prática secular e funciona como uma interrupção no direito de posse. No tempo do rebusco, aqueles que nada têm são livres de procurar em qualquer terra e em volta de qualquer castanheiro, os frutos que haja ainda por apanhar. No tempo do rebusco lembra-se que Deus deu a Terra e os seus frutos a todos os homens e, por isso, uma pessoa sem alimento é uma ofensa à pessoa de Deus. Deus irmana os homens e, em certas ocasiões, os homens lembram-se disso. Castanha era caldo e era pão; castanha era sustento e sobrevivência. Como negar isso aos irmãos?
***
Nos campos enlameados da Flandres, a morte era o sustento da raiva. Nas trincheiras nem sequer se sobrevivia: apenas os corpos escapavam à morte. Nas trincheiras, o inferno era de frio e de lama e os danados eram os corpos dos jovens em putrefacção.
Nos campos da morte, talvez alguém se tenha lembrado que era o tempo da castanha. No tempo da castanha assinou-se a paz. Os irmãos só existem se houver paz. No tempo da castanha assinou-se a vida.
Bendita seja a paz!
2 comentários:
Belos textos, e bela associação entre a castanha, a vida, o rebusco, a paz...
Um Xi Grande
Cara PV
Obrigada e um abraço bem rebuscado!
Enviar um comentário