Hoje vou tentar cantar as tuas cantigas
embora saiba que hoje, sobretudo hoje,
aquele nó na garganta
toldará a minha voz
- e as tuas trovas exigem a perfeição do cristal!
Hoje, só de ti terei saudades;
não do tempo da promessa
nem da jovem que me ajudaste a ser.
Hoje, como em todos os dias de quebranto,
ouvir-te-ei a ti,
que é a forma que tenho
de encontrar forças
e prosseguir de queixo erguido.
Hoje não me insurgirei contra quem disser que são do povo
cantigas que sei escritas por ti!
Hoje será para ti que canto: tudo quanto escreveste
porque tudo sei de cor!
E porque "o velho se quer levantar", hoje, como todos os dias, tua voz há-de acompanhar-me na denúncia.
embora saiba que hoje, sobretudo hoje,
aquele nó na garganta
toldará a minha voz
- e as tuas trovas exigem a perfeição do cristal!
Hoje, só de ti terei saudades;
não do tempo da promessa
nem da jovem que me ajudaste a ser.
Hoje, como em todos os dias de quebranto,
ouvir-te-ei a ti,
que é a forma que tenho
de encontrar forças
e prosseguir de queixo erguido.
Hoje não me insurgirei contra quem disser que são do povo
cantigas que sei escritas por ti!
Hoje será para ti que canto: tudo quanto escreveste
porque tudo sei de cor!
E porque "o velho se quer levantar", hoje, como todos os dias, tua voz há-de acompanhar-me na denúncia.
10 comentários:
Cara MPS: obrigado pela sua importante e simpática visita. Zeca Áfonos, foi indiscutivelmente um grande símbolo de toda uma geração, não só pela sua vertente musical, mas também pela coerência, dignidade, humildade e profunda valia que tinha. E também, como professor, sofreu na carne a mais hedionda das perseguições, ao ser afastado da docência!
Daquele tempo que marcaram a minha formação, destaco José Mário Branco (que conheci pessoalmente no extinto Grupo de Acção Cultural, em 1974-1977, com “A Cantiga é Uma Arma” e “Pois Canté!”), Francisco Fanhais (o “padre” Franhais, como lhe chamávamos), Manuel Freire, Tino Flores, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, Fausto, Sérgio Godinho, etc.
A sua homenagem é dum profundo carinho, à qual, pela intrínseca sensibilidade demonstrada, me associo modestamente.
Bem-haja!
Obrigada, eu, Jofre!
Estava mesmo convencido que ontem ainda tinha conseguido inventar tempo e havia comentado este artigo.
Mas vai hoje!
É mais uma daquelas singelas mas sentidas homenagens de quem cresceu e aprendeu a admirar a postura recta e solidária de um grande português e um enorme cidadão do mundo.
Tu, como eu, sabemos o que representou o Zeca para toda uma geração. Daí, que lhe dediquemos o que temos para lhe dar - carinho.
Um abraço.
A tua mensagem entrou no preciso momento em que o Zeca acabava de cantar:
"Dizei amigos,
dizei só a mim,
todos só de um lado
quem vos fez assim"
Entendeste-me muito bem: ao Zeca só tenho carinho para lhe dar porque em tudo o resto é tão maior do que eu, que me encolho no meu canto.
Olha, agora canta:
"O vento desfolha a tarde
como a dor desfolha o peito"
Um abraço
Também eu me fiz 'gente' a ouvir e a cantar José Afonso.
'Traz outro amigo também' foi o primeiro disco seu que comprei, andaria eu pelos 16 anos.
E 'Os Vampiros' continua hoje, lamentavelmente, a fazer todo o sentido. Ou se calhar até mais, porque eles andam por aí de novo 'em bandos'! E já não esperam sequer pela 'noite calada'.
Agora, 'comem tudo' à luz do dia e de cara descoberta...
Um Xi da Porca
Cara Porca da Vila:
agora andam em bandos mas sem pés de veludo! Alguém ponha a tocar em altos brados, lá para os lados de S. Bento:
"Cobre-te canalha
na mortalha
hoje o rei vai nu
os velhos tiranos
de há mil anos
morrem como tu"
e depois vire os megafones para as colinas de Lisboa a ver se alguém acorda:
"Venha a maré cheia
de uma ideia
p'ra nos empurrar
só um pensamento
no momento
p'ra nos despertar
eia mais um braço
e outro braço
nos conduz irmão
sempre a nossa fome
nos consome dá-me
a tua mão"
... até porque precisamos que "venham mais cinco".
Sinto-me tão triste por constatar a actualidade das palavras escritas em tempo de ditadura! E lá vou ouvindo o Zeca, a ver se ganho coragem.
Um abraço
Cara MPS
Esta sentida homenagem ao Zeca Afonso fez-me sentir arrepios ao lembrar-me dos tempos em que as suas cantigas uniam, ao redor de uma viola, na escadaria da escola ou no banco do jardim, a amizade cantada em uníssono.
Um abraço Raiano
Chanesco: é isso mesmo; as cantigas do Zeca tinham esse efeito congregador, porque a unidade fazia sentido.
Obrigada pelas suas palavras - até parece que estamos a falar de outra terra e de outra gente. Custa tanto!
Um abraço
Passei como sempre faço para ver o blogue e verificar se havia novos textos. Boa semana com tudo de bom.
Obrigada, Jofre, mas o tempo está a tornar-se, para mim, num bem cada vez mais escasso, porque mo obrigam a consumir em coisa nenhuma... tem que se albardar o burro à vontade do dono!
Um abraço
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