A canalha, à solta, de qualquer coisa faz brinquedo. O carvalho, na sua abundância, é pai de muitos deles.
À esquerda temos os bulharacos, estes ainda frescos, mas que irão secar. Antes de secos apresentam-se coloridos de vários matizes de vermelho e há-os, também, verdes. Na fase de crescimento têm uma cola que não pega, semelhante à do 'post-it' e que é agradável ao tacto.
Tocar-lhes; tentar encaixar os cornichos de um nos de outro; abri-los, conhecer-lhes o interior esponjoso, encontrar o sítio em que o insecto está anichado é uma brincadeira de descoberta dos sentidos, da atenção e das mudanças da vida.
E as boixas (2.ª fot.)? Não dão magníficas contas de colar? Sendo leves para berlindes, têm o tamanho exacto para serem manejadas por mãos infantis. É bom rodá-las por entre os dedos, senti-las e sentir cada nervo da mão. Pôr uma boixa no meio de cada um dos dedos, faz mãos ágeis de pianista. Podeis-vos fintar em mim! (E não me lembro de nenhum imporém engasgado com uma boixa!)
Na Primavera nascem as maçacucas, tão leves que podemos soprá-las ao vento. Não estão aqui, porque estas são fotografias de Verão. As
maçacucas, levemente humedecidas pelos dentes são excelentes borrachas para as pedras de lousa em que aprendíamos a escrever e a fazer as primeiras contas. Procurarei fotografá-las na Primavera, que é o tempo delas.
Mas a rainha das brincadeiras é a dança-palhinhas (fot. 3 e 4). Nasce na folha do carvalho, é redonda e pequenina, embora apresente colorações variadas.
Colocada e soprada por uma palha centeia que se abriu em três (ou em quatro, como é o caso presente) dá horas seguidas de brincadeira ao desafio:
quem é capaz de a fazer subir mais alto? quem é capaz de a fazer rolar por mais tempo?
E a capacidade pulmonar a desenvolver-se!
Brincávamos sem brinquedos como se afirma peremptoriamente por aí? Não! Brinquedos tínhamos e muitos! Nenhum, porém, comprado. Todos se podiam estragar e ninguém choraria o dinheiro gasto; nenhum ultrapassava o tempo de validade da criança encafuado na caixa em que foi comprado para se não estragar.
Os brinquedos renovavam-se em cada estação, ano após ano. E se o Inverno fornecia poucos materiais, lá estavam os jogos das beladas a entreterem todo o mundo. Nunca o tempo era comprido e nenhuma criança se entediava. Eram tão felizes, os meninos!
Nota: utilizei expressões que, provavelmente, só os transmontanos conhecerão. Na barra lateral está o link para o "Brègancês", um dicionário que tenho vindo a organizar de vocábulos da região de Bragança.
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3 comentários:
Será que as crianças de terras bragantinas ainda brincam assim?
Conhecem os nomes das árvores que não dão frutos?
Conhecem as Estações pelas sementeiras ou pela cor dos campos?
Tornam-se engenhosos construindo brinquedos?
Será que a Cidade não engoliu já grande perte da Serra?
Deus meu que se me morre tudo em que nasci!
Já não há crianças, Jorge, já não há crianças! E aquelas que por lá surgem no Verão falam francês. Foi a França que engoliu as nossas aldeias.
Agora que já ninguém acredita nas cegonhas é que os meninos vêm de França!
(Tinha que brincar com o assunto para desanuviar a resposta anterior!)
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