20/08/2006

Brincadeiras e brinquedos

A canalha, à solta, de qualquer coisa faz brinquedo. O carvalho, na sua abundância, é pai de muitos deles.
À esquerda temos os bulharacos, estes ainda frescos, mas que irão secar. Antes de secos apresentam-se coloridos de vários matizes de vermelho e há-os, também, verdes. Na fase de crescimento têm uma cola que não pega, semelhante à do 'post-it' e que é agradável ao tacto.

Tocar-lhes; tentar encaixar os cornichos de um nos de outro; abri-los, conhecer-lhes o interior esponjoso, encontrar o sítio em que o insecto está anichado é uma brincadeira de descoberta dos sentidos, da atenção e das mudanças da vida.

E as boixas (2.ª fot.)? Não dão magníficas contas de colar? Sendo leves para berlindes, têm o tamanho exacto para serem manejadas por mãos infantis. É bom rodá-las por entre os dedos, senti-las e sentir cada nervo da mão. Pôr uma boixa no meio de cada um dos dedos, faz mãos ágeis de pianista. Podeis-vos fintar em mim! (E não me lembro de nenhum imporém engasgado com uma boixa!)

Na Primavera nascem as maçacucas, tão leves que podemos soprá-las ao vento. Não estão aqui, porque estas são fotografias de Verão. As
maçacucas, levemente humedecidas pelos dentes são excelentes borrachas para as pedras de lousa em que aprendíamos a escrever e a fazer as primeiras contas. Procurarei fotografá-las na Primavera, que é o tempo delas.


Mas a rainha das brincadeiras é a dança-palhinhas (fot. 3 e 4). Nasce na folha do carvalho, é redonda e pequenina, embora apresente colorações variadas.

Colocada e soprada por uma palha centeia que se abriu em três (ou em quatro, como é o caso presente) dá horas seguidas de brincadeira ao desafio:

quem é capaz de a fazer subir mais alto? quem é capaz de a fazer rolar por mais tempo?

E a capacidade pulmonar a desenvolver-se!

Brincávamos sem brinquedos como se afirma peremptoriamente por aí? Não! Brinquedos tínhamos e muitos! Nenhum, porém, comprado. Todos se podiam estragar e ninguém choraria o dinheiro gasto; nenhum ultrapassava o tempo de validade da criança encafuado na caixa em que foi comprado para se não estragar.

Os brinquedos renovavam-se em cada estação, ano após ano. E se o Inverno fornecia poucos materiais, lá estavam os jogos das beladas a entreterem todo o mundo. Nunca o tempo era comprido e nenhuma criança se entediava. Eram tão felizes, os meninos!

Nota: utilizei expressões que, provavelmente, só os transmontanos conhecerão. Na barra lateral está o link para o "Brègancês", um dicionário que tenho vindo a organizar de vocábulos da região de Bragança.

3 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Será que as crianças de terras bragantinas ainda brincam assim?
Conhecem os nomes das árvores que não dão frutos?
Conhecem as Estações pelas sementeiras ou pela cor dos campos?
Tornam-se engenhosos construindo brinquedos?
Será que a Cidade não engoliu já grande perte da Serra?
Deus meu que se me morre tudo em que nasci!

MPS disse...

Já não há crianças, Jorge, já não há crianças! E aquelas que por lá surgem no Verão falam francês. Foi a França que engoliu as nossas aldeias.

MPS disse...

Agora que já ninguém acredita nas cegonhas é que os meninos vêm de França!

(Tinha que brincar com o assunto para desanuviar a resposta anterior!)