Contrariamente ao escol da sociedade que contextualiza, explica, justifica e, por isso, relativiza, a memória do povo é longa porque conserva a memória do vivido. É por isso que a avó do Jofre, há quarenta anos, ainda designava alguns tratantes com o apelativo «Jinó»: Junot!
Foi a memória portentosa do Jofre Alves que me ofereceu as preciosidades que se seguem, dizendo:
Antigamente o povo cantava estas cantilenas:
Quem oprime os Portugueses
Quem os rouba sem ter dó?
É esta Tropa Francesa
De quem é chefe Jinó.
Ou esta:...
É jurar
De matarmos o Jinó
E antes que ele se vá
Havemos fazê-lo em pó.
E havia, também, rezas anti-napoleónicas:
Conheces o Jinó?
Eu nunca cheguei a ver.
Pois é bom de conhecer(fazia aqui o “Pelo sinal”).
Da França é general,
É um impostor, usuário
E, também adversário
Da Santa Cruz.
Santo nome de Jesus!
Não há quem dele dê cabo?
De semelhante diabo
Livre-nos Deus!
Tenho a certeza que a reza só se encerrava com um Padre Nosso e três Avé-Marias!
Obrigada, Jofre!
4 comentários:
Passo e saio de mansinho, por não merecer tamanha honra num blogue de supina categoria. Bem-haja e boa semana.
Jofre Alves
http://couramagazine.blogs.sapo.pt/
Bem-haja o Jofre que me ofereceu esta matéria-prima e, ainda por cima, elogia-me!
Um abraço
Ambos de parabéns! Quando era pequena e ia passar uns dias com os meus avós na aldeia, lembro-me de ouvir por lá umas 'rezas' parecidas que falavam dos Franceses. Não recordo já os versos, mas o tal 'Jinó' aparecia lá pelo meio
Um Xi Grande
Cara PV
Já não há maneira de recuperar tais rezas?
Creio que, durante muito tempo, andámos como Junot como com o credo: sempre na boca!
Mas isto não fica sem mais esta: na minha aldeia "Maneta" é, ainda hoje, nomeada que se põe mesmo a quem tem dois braços!!!
Estes franceses!
Um abraço e obrigada
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