Foram os espanhóis que lhe deram o nome: guerra de las naranjas porque, ao entrar em Portugal pelo Alentejo, Godoy, o “Príncipe da paz” (haverá título mais descabido?), colheu um ramo de laranjeira que enviou à sua amante, nada menos do que a rainha Maria Luísa, esposa de Carlos IV de Espanha (Carlota Joaquina, a horrenda esposa de D. João VI tinha bem a quem sair!). Com este gesto, Godoy, primeiro ministro de Espanha e favorito do rei, pretendia simbolizar a conquista de Portugal com cuja coroa sonhava.
A Guerra das Laranjas (1801) foi o primeiro episódio da Guerra Peninsular que se estenderá até ao fim das invasões francesas, mas tudo tinha começado antes, por volta de 1795, quando a Europa absolutista, apadrinhada pela liberal Inglaterra, declara guerra à República jacobina que se instalara em França em 1792. Desengane-se quem quiser ver aqui uma guerra de ideologias, porque isto quase não passa de guerra de cobiça e de rapina. Não são assim todas as guerras?
A Inglaterra e a Espanha faziam parte da aliança para combater a França (a 1.ª das coligações com esse propósito, criada em 1793 e que, além das nações referidas, contava ainda com a Áustria, a Prússia, a Sardenha e a Holanda). Uma e outra, alegando alianças antigas, exigem que Portugal lhes forneça contingentes navais, homens, armas e dinheiro. Ambas, como pode ver-se, marimbavam-se para as nossas necessidades de defesa. O príncipe regente D. João governava o País havia pouco tempo e não soube, por isso e por estar tão mal rodeado de ministros e embaixadores, impor as necessidades do País às exigências dos aliados. Mesmo assim, as nossas embarcações seriam fundamentais para os sucessos de Nelson no Mediterrâneo e a campanha do Rossilhão teria sido ainda mais torpe se não fosse a acção das nossas tropas superiormente conduzidas por Gomes Freire de Andrade.
A verdade militar é que a França derrota a Espanha e, suprema ironia e maldade, a Espanha alia-se à França e, de seguida, as duas exigem que Portugal rompa com a Inglaterra, lhe declare guerra; aprisione navios e pessoas inglesas em terras portuguesas e lhes confisque os bens. Portugal não pode, obviamente, aceitar porque sabe que, no preciso instante em que se afaste dos ingleses, perderá os arquipélagos atlânticos e a Índia. Contra a França combate, agora, a 2.ª coligação (Áustria, Inglaterra, Rússia e Turquia – 1798). É neste contexto que se inscreve a Guerra das Laranjas. As praças alentejanas vão caindo sem que os defensores disparem um tiro, mas, apesar disso, os invasores vão pilhando e sobrecarregando os povos com impostos imorais. Contrariamente, no Norte, Gomes Freire, inconformado com tudo isto, avança pela Galiza onde as populações conquistadas se vão declarando Portuguesas.
Tudo começara a 20 de Maio; a 7 de Junho assinava-se, em Badajoz, a paz que não seria ratificada por Napoleão, ainda primeiro cônsul. Queria muito mais do que o muito que o embaixador português aceitara, de motu proprio, conceder. Novo tratado será assinado em Madrid (29 de Setembro de 1801): a França assegura o pagamento de uma indemnização de vinte e cinco milhões de libras tornesas (das quais, cinco milhões não seriam declarados, para proverem o lucro pessoal dos negociadores); alargamento enorme da Guiana francesa, além das medidas contra a Inglaterra que tinham motivado o início da guerra. A Espanha garante para si a posse das praças de Elvas, Campo Maior e Juromenha, bem como todo o território além do Guadiana onde se inclui, naturalmente, Olivença.
A Guerra das Laranjas (1801) foi o primeiro episódio da Guerra Peninsular que se estenderá até ao fim das invasões francesas, mas tudo tinha começado antes, por volta de 1795, quando a Europa absolutista, apadrinhada pela liberal Inglaterra, declara guerra à República jacobina que se instalara em França em 1792. Desengane-se quem quiser ver aqui uma guerra de ideologias, porque isto quase não passa de guerra de cobiça e de rapina. Não são assim todas as guerras?
A Inglaterra e a Espanha faziam parte da aliança para combater a França (a 1.ª das coligações com esse propósito, criada em 1793 e que, além das nações referidas, contava ainda com a Áustria, a Prússia, a Sardenha e a Holanda). Uma e outra, alegando alianças antigas, exigem que Portugal lhes forneça contingentes navais, homens, armas e dinheiro. Ambas, como pode ver-se, marimbavam-se para as nossas necessidades de defesa. O príncipe regente D. João governava o País havia pouco tempo e não soube, por isso e por estar tão mal rodeado de ministros e embaixadores, impor as necessidades do País às exigências dos aliados. Mesmo assim, as nossas embarcações seriam fundamentais para os sucessos de Nelson no Mediterrâneo e a campanha do Rossilhão teria sido ainda mais torpe se não fosse a acção das nossas tropas superiormente conduzidas por Gomes Freire de Andrade.
A verdade militar é que a França derrota a Espanha e, suprema ironia e maldade, a Espanha alia-se à França e, de seguida, as duas exigem que Portugal rompa com a Inglaterra, lhe declare guerra; aprisione navios e pessoas inglesas em terras portuguesas e lhes confisque os bens. Portugal não pode, obviamente, aceitar porque sabe que, no preciso instante em que se afaste dos ingleses, perderá os arquipélagos atlânticos e a Índia. Contra a França combate, agora, a 2.ª coligação (Áustria, Inglaterra, Rússia e Turquia – 1798). É neste contexto que se inscreve a Guerra das Laranjas. As praças alentejanas vão caindo sem que os defensores disparem um tiro, mas, apesar disso, os invasores vão pilhando e sobrecarregando os povos com impostos imorais. Contrariamente, no Norte, Gomes Freire, inconformado com tudo isto, avança pela Galiza onde as populações conquistadas se vão declarando Portuguesas.
Tudo começara a 20 de Maio; a 7 de Junho assinava-se, em Badajoz, a paz que não seria ratificada por Napoleão, ainda primeiro cônsul. Queria muito mais do que o muito que o embaixador português aceitara, de motu proprio, conceder. Novo tratado será assinado em Madrid (29 de Setembro de 1801): a França assegura o pagamento de uma indemnização de vinte e cinco milhões de libras tornesas (das quais, cinco milhões não seriam declarados, para proverem o lucro pessoal dos negociadores); alargamento enorme da Guiana francesa, além das medidas contra a Inglaterra que tinham motivado o início da guerra. A Espanha garante para si a posse das praças de Elvas, Campo Maior e Juromenha, bem como todo o território além do Guadiana onde se inclui, naturalmente, Olivença.
O Príncipe D. João tarda em aceitar semelhante acordo de paz, e novo tratado virá pela mão da sua aliada que assina separadamente, com a França, a paz de Amiens (os preliminares desse acordo datam de 1 de Outubro). Esse tratado parece prever a integridade do território nacional e possessões ultramarinas (artigo 6.º), mas um artigo secreto sanciona a extorsão territorial decidida em Madrid. Bem dizia Talleyrand que Portugal estava metido entre dois terrores e que o menor não era, certamente, o das esquadras britânicas!
Napoleão está imparável: já é imperador dos franceses e a grande parte da Europa tem-na, ou conquistada, ou vassala, ou aliada, que é outra maneira de dizer vassala. Nova aliança se organiza contra si (a terceira, de 1805, que conta com a Inglaterra, a Áustria e a Rússia); Portugal e Espanha negoceiam a neutralidade paga com a França. A Inglaterra, que fecha os olhos no que toca a Portugal, não aceita tal neutralidade à Espanha que se vê, de novo, envolvida na guerra (os seus navios estarão em Trafalgar). Chegamos a 1806 e Napoleão decreta o “Bloqueio Continental”, pedindo à Espanha que o ajude a obrigar Portugal a fechar os seus portos aos ingleses. D. João vai protelando, escrevendo para Inglaterra, propondo alternativas a França, etc. Em 1807 Napoleão está farto de tanta conversa e, em 12 de Agosto, dá um prazo até 1 de Setembro para que Portugal declare guerra à Inglaterra e junte os seus navios à esquadra francesa, notícia que será corroborada pelo embaixador espanhol em Portugal.
Creio que Napoleão sabe que Portugal não tem alternativas, mas percebe que pode enganar Godoy, assinando, com ele, o Tratado de Fontainebleau (27 de Outubro de 1807). Tal tratado prevê a partilha de Portugal: Entre-Douro e Minho tornar-se-iam no Reino da Lusitânia Setentrional governado pelo rei da Etrúria (da família dos reis de Espanha e recentemente desapossado do seu trono por Napoleão); o Alentejo e o Algarve formariam o Principado dos Algarves e seria entregue ao próprio Godoy, e tudo o resto ficaria para a França que decidiria o que fazer depois da paz.
Este tratado era um engodo porque, dez dias antes, Napoleão ordenara que Junot entrasse em Espanha onde se reuniria com as tropas espanholas para conquistar Portugal mas, uma vez em Salamanca, o general recebe ordens para não esperar pelos espanhóis e entrar sozinho no nosso País. Fê-lo a 19 de Novembro de 1807. Portugal definhava!
Passaram-se duzentos anos e há portugueses que acreditam que Espanha esqueceu o seu sonho hegemónico. Diriam o mesmo os portugueses de 1383? Os de 1580? Os de 1801?
Por mim, creio que a Espanha, jamais esquecerá que a liberdade portuguesa lhe desfeia o mapa!
Passaram-se duzentos anos e há portugueses que acreditam que Espanha esqueceu o seu sonho hegemónico. Diriam o mesmo os portugueses de 1383? Os de 1580? Os de 1801?
Por mim, creio que a Espanha, jamais esquecerá que a liberdade portuguesa lhe desfeia o mapa!
7 comentários:
Um autêntico "livro aberto" esta dissertação.
Assim vou aprendendo.
P.S. (Salvo seja!) - O Recantos da Terra já não existe e por isso gostaria que o retirasses dos links.
Actualmente tenho, além do Sino, o "Lugar ao som" e o "Os Bigodes do Gato", reformulado por completo. www.bigodesdogato.blogspot.com onde, em cada dia da semana, trato um tema diferente.
Um abraço e bom ano.
É a tua amizade a falar, Jorge!
Lembrei-me de escrever sobre o assunto porque passam agora os 200 anos da 1.ª invasão francesa e parece-me que as entidades oficiais andam distraídas... Tu sabes que não gosto de deixar passar em branco estes temas, por isso ando a ler minudências sobre o assunto, para ver se me inspiro e escrevo uma pequena peça para encenar com o grupo da nova escola.
Obrigada pelas dicas acerca dos teus blogs. A verdade é que eu nem sei como é que eles reapareceram na barra lateral porque, como te lembras, tudo tinha desaparecido. Nestes meses da minha ausência o blogger mudou muito. Inconsciente como sou, no que à informática diz respeito, tratei de aceitar as mudanças... Gostei que me recuperasse os links, mas aquilo que eu queria mesmo mudar - a largura da página - não o consegui fazer. Como detesto ver aquele lençol estendido com tanto espaço desperdiçado dos lados!
Um abraço
17 Setembro, 2007 18:07
O que não conseguiram pelas armas estão agora a obter silenciosamente à força de dinheiro. De terras a empresas, não passa um dia sem que mais qualquer coisa vá parar a mãos espanholas.
[Há uns meses atrás, num dos canais da TV espanhola, vi uma série de documentários muitíssimo bem feitos sobre esta época. Fiquei então a saber que chegou a estar acordada a constituição de um país único com a capital em Lisboa, do inteiro agrado de ambas as cortes. Que acabou por não se concretizar precisamente pela oposição de Godoy, que assim via contrariada a ambição de vir a ser rei e senhor do Alentejo e Algarves, no que foi desde logo apoiado pelos franceses, a quem tal união obviamente não agradava.]
Um Xi da Porca
Cara PV
É bem verdade aquilo que diz, mas só a nós podemos acusar, ou melhor, à nossa classe dirigente que, salvo raras excepções, nunca mereceu o povo que somos.
O conteúdo do seu parêntesis também é verdadeiro: questões políticas do lado de lá da raia levaram alguns espanhóis a propor D. João como rei da Península. Não sei se D. João alguma vez terá levado isso a sério, mas já não digo o mesmo da execrável Carlota Joaquina.
Um abraço
Vamos ser razoáveis;este D Joao VI que tanta gente acha um poltrão foi um dos mais espertalhaços monarcas que tivemos. Ao dar de froxe para o Brasil, gorou a rapina britânica, fintou Junot e o corso, baralhou as contas aos espanholes e deixou-os em maus lençois irritando profundamente a Jakina mas marimbando com aquele seu ar ( imagino) de gajo a viver nas nuvens mas a topar todas as jogadas. Enfim depois da borrasca voltou sem que a independência do rectângulo se perdesse. Claro que a Resist~encia se deve ao heróísmo da arraia-miúda, como sempre ( ou vcês julgam que foram o soldados portugueses que perderam as colónias repito colónias e não ultramar ? 1º foi Salazar o Katano e os ultramaristas ( beatões ) com a mania que aquilo era Portugal para dissimularem o medo de ser apelidados colonialistas na ONU e depois foram os coroneis brigadeiros e generais gentxi )
anónimo
Comecei por achar interessante (embora não inédita) a opinião que transmite sobre D. João VI, mas infelizmente deitou tudo a perder com os acrescentos que fez e com a forma como se referiu a algumas personalidades da nossa História. Aqui não está em causa o gostar ou não de alguém, antes, o decoro e o respeito.
Depois, deixe que lhe diga, o desprezo que manifesta por tais personagens só é comparável ao desprezo, que pratica, pela Língua Portuguesa. O segundo fica-lhe muito pior do que o primeiro!
Se voltar a intervir aqui agradeço-lhe que se identifique, nem que seja como eu, apenas com algumas letrinhas do nome.
Olá amig@. Gostaria de saber se você tem o tratado original completa de Badajoz. O documento é muito interessante para mim, e eu gostaria de tê-lo digitalizado. Se você tem, ou você pode fazê-lo, por favor, escreva-me para o meu e-mail: rubibf@yahoo.es. Agradecemos antecipadamente.
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