Acende-se Jesus
Acenda-se de novo o presépio no mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
Passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.
E a corrida que siga, o facho não se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
Para sentir no peito a rosa reflorida!
Filhos, as vossas mãos! E a solidão estremece,
Como a casca do ovo ao latejar-lhe a vida...
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
Dentro de mim não sei qual é que se eterniza.
Extinga-se o rumo, dissipem-se os fantasmas!
O calor destas mãos nos meus dedos tão frios!
Acende-se de novo o presépio nas almas,
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.
David Mourão Ferreira
Este poema de David Mourão Ferreira tornou-se, desde que o li pela primeira vez, no meu poema de Natal. Ofereço-o a quem me lê, muito embora não seja meu!
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Fui ler o Público depois de ter publicado o post. Um artigo de António Marujo intitulado "Quando Celebrar o Natal é Proibido" deixou-me uma sensação indescritível de mágoa, porque de perda. Transcrevo o início e o fim do artigo que vale a pena ler na íntegra (não há link disponível):
Espanha, Reino Unido e Estados Unidos com polémicas sobre comemorações natalícias para não ofender não-cristãos
Festas de Natal proibidas numa escola em Saragoça (Espanha) para não ofender crentes não-cristãos, empresas que não querem festas natalícias no Reino Unido, árvores de Natal removidas e depois recolocadas no aeroporto de Seattle (EUA) na sequência de polémicas sobre as decorações. O Natal, festa que comemora o nascimento de Jesus Cristo, está a ser limpo da sua raiz, com argumentos como o pluralismo e a laicidade.
(…)
Em Portugal, a Associação República e Laicidade resolveu protestar com a lembrança dos factos históricos que estão na origem do Natal. Em causa está a revista Professores do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico. No seu número de Dezembro, a publicação decidiu apoiar os professores que queiram desenvolver uma "Representação do Nascimento de Jesus". Citando excertos do texto sugerido na revista, a associação pergunta: "Quantos professores estarão habilitados para "trabalhar", para "analisar" e "aprofundar", com as crianças que têm sob a sua tutela pedagógica, as questões que aquele "simples" auto de Natal pode facilmente suscitar?"
Historicamente não me lembro de tal esquizofrenia, de tamanha onda suicida! É como se as árvores de uma floresta transformassem os galhos em mãos possantes e se arrancassem a si próprias pela raíz! Para tal mundo nem um "rico enterro" se pode augurar!
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15 comentários:
Cara MPS: venho com agrado visitar o seu imprescindível e sempre interessante blogue. Deixo algumas nótulas. Em relação ao Livro de Horas de Besançon, genericamente conhecido como “Breviaire à Usage de Besançon”, posso acrescentar que é um fólio em pergaminho, com 12 iluminuras, cujo missal foi escrito em latim e francês, e pertence à Biblioteca Nacional da Holanda desde o século XIX. Em relação ao Zinão, acrescento que tenho por ele uma profunda ternura, quanto mais não seja, por uma particularidade: era um ser humano cheio de defeitos, vícios imensos, dum sarcasmo feroz, e acima de tudo, porque naquele século XIX era pouco atreito às convenções. Enfim, um homem com virtudes e defeitos inerentes, tal como nós, mas essencialmente com uma vantagem: estava liberto totalmente de qualquer sentimento da hipocrisia. Um bruto em potência, o sonho filosófico da busca do bom selvagem, ainda não contaminado, na medida em que era iletrado. O António Marujo citado será o antropólogo que conheci na década de 1990? Vai longa a parlenga e a ainda nada disse de substancial. Até breve.
Caro Jofre, obrigada pelos esclarecimentos em relação ao "Livro de Horas de Besançon".
Quanto ao Zinão partilho inteiramente da simpatia que nutre por ele. O comentário que deixei no seu "Coura Magazine" é de mera surpresa, sem nenhuma conotação negativa.
Lamento não poder esclarecê-lo acerca de António Marujo que, para mim, é simplesmente um dos jornalistas do Público cujos artigos me costumam agradar.
Um abraço
Olá amiga :)
Realmente a palavra correcta será mesmo "esquizofrenia". Tens toda a razão. Conheces a minha opinião e sabes-me de acordo com o laicismo, mas isto é, pura e simplesmente ridículo! Quando as coisas "chocam", eu percebo; defender a mutilação genital feminina porque é tradição nalguns países é algo aberrante e desumano; contrariar a "festa" Natalícia é incompreensível. Um festa de amor, carinho, dedicação e paz deve manter-se, seja quais forem os nossos credos.
Um abraço e bom Natal!
Miguel
Revoltante a demagogia hipócrita que por aí grassa.
Um nojo, até para mim -um ateu convicto!
Um abraço.
Jorge G
Fiquei tão irritado que até me esqueci de agradecer a dedicatória do poema.
Muito obrigado, Marinama!
Jorge G
Cara MPS
Obrigado pelo poema.
Quanto ao artigo do António Marujo...
Confesso que é a primeira vez que este tema me dado a conhecer, mas pela forma como a notícia se apresenta esses tais argumentos(pluralismo e laicidade) soam-me mais a fundamentalismo.
É natural que em Portugal, maioritáriamente católico, todos os ícones do Natal sejam postos em evidência. Não vejo em que é que isso pode incomodar os não católicos.
Dia 24 lá estarei para comer o polvo com os rábanos.
Um abraço e votos de Boas Festas
Miguel:
o laicismo é um bem conquistado com muito esforço. Não se confunda o laicismo com a desculturalização, perdoa-me o neologismo. O comentário dos senhores da associação República e Laicidade poderia fazer-se, por exemplo, para o 5 de Outubro: qual é o professor que...? Claro que a minha pergunta é às avessas: qual é o professor que não...?
Um abraço e feliz Natal na companhia dos teus, porque é assim que ele faz sentido!
Jorge:
ainda bem que és tu a usar tais palavras, porque eu até já tenho medo que me apodem de fundamentalista! além da hipocrisia creio que há muito medo à mistura, mas isso é contraproducente: se, na nossa casa, nos coibimos de sermos nós próprios, não tarda nada deixaremos de aceitar visitas. Esse é um passo dado na direcção da xenofobia. E é muito triste!
Um abraço
Chanesco:
também eu não! Aliás, não percebo por que razão é que as escolas e locais de trabalho são convidados a aceitar no seu horário tempos para a oração islâmica, se pede que os trabalhadores e estudantes judeus não trabalhem depois de sexta-feira ao cair do Sol e depois parte-se para a negação das celebrações cristãs! Há qualquer inversão nisto tudo! Sublinho, no entanto, que concordo com essas concessões, mas que são isso mesmo, concessões para que todos sejamos livres e possamos conviver respeitando-nos!
Qualquer dia ainda se cria um movimento que exige a substituição dos dias santos: Natal, Sexta-feira Santa, Páscoa, Corpo de Deus, Imaculada Conceição; Todos os Santos! Confesso que tudo isto me deixou profundamente indignada.
Também eu lá irei ao bacalhau, ao polvo e à couve de penca porque nenhuma se lhe compara.
Um abraço
Cara MPS: o seu comentário não teve qualquer condão menos cabal, nem tão-pouco transmitiram qualquer ideia errónea, antes pelo contrário, são duma riqueza e intensidade que transcendem o modesto espaço que ocupo na Internet, e por isso são imensamente apreciados por mim, de modo que fico sempre grato. Um pequeno aparte: sou minhoto, mas a minha mulher é transmontana, natural de Carvalho de Egas, Vila Flor, sendo pessoa bairrista e entusiasta da sua terra. Desde sempre que fez uma recolha de expressões e modos de falar da terra dela, que agora, todos os dias 15 de cada mês vão ser colocados do blogue VILA FLOR em Flor (http://vilaflor.blogs.sapo.pt/). Nesses “artigos” a minha interferência é quase nula – escrevo-os no computador, dou uma pequeníssima “limpadela”, coloco-os na blogosfera – e o resto, tudo, é dela. Enquanto aguardo pelas suas interessantes “Expressões Idiomáticas”, que tanto apreciei, vamos vivendo com estas da minha mulher. Até breve.
Jofre,
de novo, obrigada pela simpatia. E não vou perder, de certeza, a sua página de Vila Flor: sempre somos conterrâneas, sua mulher e eu! Também comem penca no Natal?
Um abraço
Luísa
Eu sou uma pessoa qualquer, mas agradeço a deferência. E o teu blog com a Jo é-me particularmente agradável de visitar.
Ainda bem que gostaste do poema: a mim comove-me ao ponto de se me embargar a voz sempre que o leio: alto e imaginando a voz de David Mourão Ferreira.
Quanto, às proibições... convém referir, que o governo britânico tem manifestado a sua oposição a tais dislates. Mas dos espanhóis nada ouvi e nada li! E tens razão: é uma cedência aos terroristas, porque é manifestação inequívoca de medo. Eu só espero que seja um vento mau passageiro. Assim é que não dá para continuar.
Um abraço
Porca da Vila
Estão, não estão? Estadulho Neles!
Feliz Natal também!
(As árvores, por aí, devem estar lindíssimas com as geadas dos últimos dias...)
Estimada MPS: Boas Festas, Santo Natal e Próspero Ano Novo, são os meus sinceros votos.
Obrigada, Jofre, embora só lhe responda hoje, dia 30, acredite que são sinceros os votos de retribuição.
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