11/09/2008

Antero

Não é pelo dia, porque dele prefiro outros. É para que este soneto se ligue com o artigo anterior. Do seu "Tese e Antítese" escolho a última parte:

Num Céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino:

Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante...
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasfema ou ergue um hino...

A ideia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!

Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que fecunde o sangue dos heróis.

12 comentários:

Mário Lima disse...

Um bom dia.
Não me pergunte como cheguei ao seu blog, mas digo que gostei de o visitar.
Como reparei que gosta do Zeca Afonso, vou deixar aqui a minha coleção de videos deste cantor.
O endereço é.
http://br.geocities.com/saopedro60/Som/ZecaAfonso.html
Um bom fim de semana.
Saudações.
Mário Lima

Anónimo disse...

Amiga MPS
Para que a unidade dos contráris fique completa, falta a sintese.
No processo de continua autodestruição, e transformação, pela qual nada pode permanecer eterno, uma coisa,é e não é ao mesmo tempo, e do mesmo modo,está e não está ao mesmo tempo no mesmo lugar. "Hegel"
Este soneto de Antero de Quental, é muito profundo e construído sobre bases muito sólidas, isto é poesia a sério.
Um abraço amiga

MPS disse...

Caro Mário Lima, seja muito bem-vindo!

Isto da Internet é como quem entra numa imensa biblioteca e, ao calhas, deita a mão a um livro. Benditas bibliotecas e benditas mãos que fazem o gesto.

Bem-haja pela indicação que aqui deixou. Assim que possa visitá-lo-ei.

Cumprimentos

MPS disse...

Caro Managão

O meu amigo é uma caixinha de surpresas. Com que então, versado em Hegel?

Tem muita razão: falta a síntese (e eu suprimi a tese), mas como uma síntese se transforma em nova tese...

É poesia a sério, sim senhor. Da mais bela que conheço. Em Antero nem sei qual é maior, se a beleza literária, ou se a beleza moral.

Um abraço

Isamar disse...

Este Setembro tem-se tornado inesquecível pelos momentos negativos que têm vindo a acontecer. Hoje, passados trinta e cinco anos sobre a morte de Victor Jara, relembro aqueles que pagaram tão caro o seu sonho. Com a vida. Compete-nos a nós não deixar esquecer que esses sonhos continuam a ser os nossos sonhos. O homem nasceu livre e assim deve permanecer. Transmitamo-lo às gerações mais novas para que o saibam transmitir também.
Obrigada, amiga.
Bem haja!

Um abraço

Meg disse...

Cara MPS

Hoje venho como se vai à Biblioteca, venho ler, reler... e
pensar. Porque com o Antero tem de ser assim, pelo menos comigo.
Um abraço

MPS disse...

Cara Sophiamar

Façamos disso a nossa luta e o nosso exemplo. Continuo a acreditar que só pelo exemplo se educa. E que modelos de vida livre são Allende e Vitor Jara!

Um abraço

MPS disse...

Cara Meg

Antero tem esse efeito sobre todas as pessoas que se não satisfazem com palavras ocas. Bem-vinda ao clube dos seus admiradores.

Um abraço

Isamar disse...

"Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que fecunde o sangue dos heróis."

Gosto de Antero. Infelizmente muito cedo desaparecido por vontade própria. Uma inadaptação às injustiças da vida terrena onde as assimetrias sociais, infelizmente, tendem a aumentar. Ao contrário do que desejaram e desejam os grandes sonhadores.
Pois que fecunde o sangue dos heróis e que a sua morte prematura nos permita tirar as devidas lições. Na minha serra diz-se:" antes quebrar que torcer".
Que sempre assim seja e que os intemeratos continuem a existir.

Este mês de Setembro é profícuo em efemérides. Muitas más mas foi também no dia 17, o dia desaparecimento de Victor Jara, cruelmente assassinado, que nasceu um poeta que muito admiro. Guerra Junqueiro.

Deixo-lhe um abraço apertado e um bem-haja acompanhado de uma profunda gratidão.

Isabel

MPS disse...

Cara Sophiamar

Setembro é também o início da paleta das cores magníficas de Outono. Deixemo-nos seduzir pela beleza. Cabe-nos descobri-la e amá-la.

Um grande abraço

Anónimo disse...

Estive três semanas no Alto Minho para encerrar a época do folclore e os últimos festivais folclóricos, daí a minha ausência, porquanto como lhe disse certa vez, já não levo o computador nem tenho Internet lá na minha santa aldeia e humilde choupana, senão nunca saía de casa, sempre encafuado como caturra a vasculhar o hiperespaço..., longe do povo e de tudo, feito burguês solitário...

Procurei denodadamente a revista onde presume ter o artigo acerca de D. Branca Lourenço de Valadares, mas a minha biblioteca é enorme – sem vaidade ou actos de vanglória, soma mais de sete mil livros, espalhados por Paredes de Coura e Sintra – e foi infrutífero.

Nos confins do meu cérebro uma réstia de luz aponta no sentido das ARMAS E TROFÉUS, revista de heráldica e genealogia, no início da década de 1980.

Foi dos meus primeiros artigos, estavam acabadas as tarefas da revolução e virei-me para a genealogia, heráldica, ex-librismo e etnografia, e outras migalhas que a ninguém importam...

Agora vi, nestas três semanas de ausência por Viana do Castelo e Paredes de Coura o que perdi no seu blogue. Temas que me interessam de sobremaneira, até pela elevada qualidade.

MPS disse...

Meu caro Jofre

Que bom voltar a encontrá-lo! Felizmente, o motivo da ausência é daqueles que eu gosto de partilhar, embora a vida não me permita gozá-lo por dias tão demorados...

Teve uma trabalheira comigo. Bem-haja. Estive algumas horas em pesquisa na internet que me não valeu de muito. Mesmo na casa mãe, a entrada referente à "Armas e Troféus" da década de 1980 está, ainda, em construção (mas fiquei a sabê-lo Sócio Agregado do Instituto Português de Heráldica) Assim que possa, correrei à Biblioteca Naciona, a ver se encontro lá o seu artigo.

Reitero o meu bem-haja

Um abraço