13/11/2008

Tempos levados da breca







J. Bosch, Navio de Tolos (estudo)






"Quem governa é a lei", disse o senhor primeiro ministro. Ouve-se e não se acredita!


Pegar nesta expressão pelo lado da anedota seria entrar no jogo que nos querem fazer jogar, de fingir que não vemos a realidade, escapando à incómoda tarefa de a nomear. Tenho a certeza de que o senhor primeiro ministro disse o que queria dizer. Ele sabe bem que quem governa é o governo corporizado na sua pessoa e o silogismo mais elementar dá-nos a exacta conclusão que quer que tiremos, para que todos passemos a agir em conformidade:

Quem governa é a lei
Sócrates governa
logo
Sócrates é a lei

O senhor primeiro ministro proferiu tais palavras no dia seguinte ao da avassaladora manifestação de professores. Não foi por acaso! Ele quer que os professores e, através deles, todos os cidadãos, assimilem aquela máxima, corolário de toda a sua prática governativa e não hesita em socorrer-se da intimidação para atingir as metas que se propôs: criar um país onde lhe sejam cantados hossanas. Nos seus sonhos mais ousados, quiçá, imagina o dia em que os professores serão os sacerdotes mais devotados da sua liturgia política.

Na soberba das suas certezas, ele crê que inventa um mundo novo e nem se lembra de quantas vezes se rompeu a cadeira do poder a tantos outros como ele.

12 comentários:

Anónimo disse...

Amiga MPS
Eu que sou do povo, reconheço quão importante é a palavra e a acção dos professores, neste virar de página da vidados portugueses!
Vamos romper-lhe a cadeira?
Abraço amiga

Isamar disse...

Cara MPS

Tempos difíceis estes! Tempos de grande crispação na classe docente como não me lembro de ter visto.A insatisfação reina no seio de muitos grupos socio-profissionais, implantou-se no funcionalismo público e, sobretudo, nos professores. A pesporrência, a inflexibilidade, a intolerância parecem ser a única resposta que dão à insatisfação demonstrada por aqueles que têm a nobre missão de ensinar, de formar cidadãos, de preparar o futuro. Muitos dos que agora se manifestam, vêm de um tempo em que lhes era dada a possibilidade de escolher a via profissional que queriam seguir e se escolheram o ensino é porque era esse o seu sonho, a sua paixão. Não há sindicatos que consigam unir toda uma classe e levá-la a manifestar o seu direito à indignação. Se o fazem agora aos milhares é porque o actual modelo de avaliação dos docentes peca pela morosidade, pela burocracia, pela injustiça de tal forma que uniu uma classe tão numerosa.
É urgente, mesmo muito urgente, uma política de diálogo que quebre esta insatisfação e devolva a serenidade a quem tem nas mãos a importante missão de formar cidadãos honestos, responsáveis, sabedores. E transmitir o saber, com motivação e qualidade, exige muitas horas de preparação.
Um abraço amigo

MPS disse...

Caro Manangão

Por mim vou fazendo o que posso e, como grão a grão enche a galinha o papo, se cada um fizer o que pode...

Um abraço

MPS disse...

Cara Isabel

é bem verdade: tudo o que falta é respeito. Pelas pessoas, pela democracia. Até pelo bom senso!

Um abraço

Isamar disse...

Cara MPS

Venho deixar-lhe um abraço, desejar-lhe um bom Domingo!

Bem-haja!

Meg disse...

Cara MPS,
E é que são mesmo tempos levados da breca!Por mais voltas que dê não consigo encontrar o fio desta meada, ou ela é tão óbvia que nos deixamos todos ensandecer com as políticas de um governo que não tem mais saída que recuar... inexoravelmente. Por que se está a "partir tanta pedra" e não se faz o que tem de ser feito. E depressa! CHEGA de birras e prepotência! Pense-se nos alunos!

Um abraço

MPS disse...

Cara Meg

Creio que o problema é mais vasto do que isso: urge que se pense no País!

Um abraço

Anónimo disse...

Sou geneticamente antipoder, até diz que a minha família sofre de anarquismo genético. Por isso, nenhuma simpatia tenho por este tipo arrogante de autoridade, de prepotência, destes iluminados que nos desgovernam mais do que governam.

Aliás, cotejando – exercício incomparável – a geração dos primeiros estadistas desta III República com a actual pandilha de sátrapas percebe-se melhor. Depois de Mário Soares, Álvaro Cunhal, Diogo do Amaral e Sá Carneiro, a valia desta gentalha sapatranca tem decrescido assustadoramente, uma rampa inclinada para o despenhadeiro.

Quanto a mim, nenhum crédito lhes abonos, e até creio que só vão para a vida política – em geral e com raríssimas excepções – aqueles que nulo mérito têm na sociedade civil, isto é, os maus advogados, os maus médicos, os maus professores, etc. que não têm qualquer mérito, idoneidade e capacidade. Mas tão-pouca vergonha, capazes de dizerem que foram eles que inventaram a água...

E são esses, em meias de seda, que agora vendem a ideia da avaliação pelo mérito..., ferventes apóstolos da meritocracia. Pobre Pátria que não tens sossego com estes ascendentes da verborreia. Esta democracia na casa dos trinta parece já um velho caduco, tomada à rédea, a esfuzilar a boa nova da redenção...

MPS disse...

Meu caro Jofre

Que mais acrescentar ao que disse? Só que lhe agradeço que o tenha feito aqui.

Um abraço

Anónimo disse...

É engraçado que vim aqui parar por acaso, à procura de coisas da minha terra e agora deparo-me com reflexões muito profundas, o que me deixou muito satisfeita. Por isso resolvi meter a colherada.
Também eu sou povo e sou professora e tenho sentido na pele todas as barbaridades que têm feito ao Ensino Público, aos professores e também aos alunos.
Obrigada

MPS disse...

Adelaide

Cara colega, há acasos felizes. Seja muito bem-vinda e meta a colherada sempre que lhe aprouver!

Um abraço

Anónimo disse...

E foi a propósito do nome da minha aldeia que é Especiosa que descobri o vosso espaço.Se quiser dar uma espreitadela aos meus espaços, um em Mirandês e outro em Português, esteja à vontade em especiosameuamor.blogspot.com
Está mesmo no começo
Um abraço